Casas com arte existem desde os tempos das cavernas, com pinturas e decorações com cenas e objetos do cotidiano indicando que aquele espaço tinha dono: ou era de uma família ou de um grupo.
Nas casas dos artistas e designers, não é diferente, e esperamos encontrar essa empatia com a arte moderna, que explica, através da metáfora artística, o cotidiano e o momento cultural do Planeta.
Entretanto, as casas dos artistas, às vezes, nos surpreendem, trazendo lembranças de família de um passado cheio de memórias, com um charme antigo, em vez de apenas ultramodernas. O tempo nos ensina que moda e modernidade jamais andam juntas. Ser moderno, informado e atual nada tem a ver com tendência ou moda.
Hoje, o momento da arte se reflete e tenta mostrar a diáspora, tema das próximas feiras e exposições de arte do mundo, os movimentos migratórios feitos de forma agressiva, quando um povo ou um grupo cultural são expulsos do seu local de origem. Isso acontece nas guerras, nos conflitos religiosos, na fuga de lugares precários para países com mais oportunidades ou nas situações expansionistas.
A arte tenta expressar esse grupo oprimido que perde, de um dia para o outro, suas referências, suas ideias de lar, de conforto e identidade: os refugiados, os povos indígenas, os escravos, os judeus, os fugitivos de guerras atuais… Quais marcas e referências vão marcar esse novo local e como irão incorporar sua cultura a uma nova realidade?
A sensibilidade dos artistas tenta expor essa nova etapa e desafio do momento político mundial. A civilização tem, aos poucos, assimilado a grande importância da personalidade, diferenças e a fragilidade das emoções. Nada pode ser desvalorizado ou dispensável.
Sem ideologia cultural, perdemos nossas referências, e, sem uma casa, perdemos a noção de proteção e segurança. Quando temos a chance de escolher, podemos ir para qualquer lugar, mas o olhar cultural particular é único e será sempre importante para qualquer lugar.
Vivendo este momento tão sensível, nós, arquitetos, tentamos abraçar esses grupos com gentileza e muito carinho, adaptando-os a uma nova situação o menos traumática possível .
Perguntamos à designer Amanda Seiler, atenta ao assunto, sobre sua visão de casa e da sua arte dentro de casa: “Encontros. Trocas. Como vale a máxima segundo a qual só se conhece uma pessoa verdadeiramente quando somos recebidos na casa onde ela mora, então, sejam bem-vindos. Ao entrar na minha casa, o olhar busca foco na primeira coisa que se vê: janelas amplas que dão de cara com a copa de uma árvore ali em frente e passarinhos que cantam (bastante) durante o dia, mas abrem espaço para toda música e outros barulhos vindos de bares repletos de pessoas felizes desde que o sol se põe até ele voltar de novo”.
E continua: “Minha casa (me) acolhe na minha introversão criativa, sem me isolar. A beleza da natureza e a alegria do carioca compõem o maior quadro da minha sala. Um quadro que é também sonoro e me faz companhia, me dá combustível enquanto eu produzo muito dos meus trabalhos: artes digitais, multimédia e composições. Já morei por aí, nos Estados Unidos; antes, tive o privilégio e sorte de ter vivido na Suíça, mas, perto dos 22 anos, descobri a inspiração que o Rio me ofereceu e achei meu lugar aqui. Na Europa, respirei e me conectei com ares históricos dos berços daquela arte que dão as bases da maioria dos meus trabalhos, mas a energia do Brasil injeta as cores e sensações. Houve um tempo em que estudei Psicologia na Boston University, que me trouxe elementos da condição humana, do cotidiano e, logo, a transição para a formação em Desenho Industrial, já no Rio, me abriu — de fato — os olhos para expressão usando tecnologia. Me construí em torno de uma arte assim, me vi assim. Há pequenos momentos em que sinto falta de ter criado raízes, uma base em um só lugar, mas não daria nem trocaria nada pelo tempero multicultural e multidisciplinar que essas experiências me proporcionaram”.