Há enredos que contam histórias conhecidas, com personagens lineares e, por isso, perigosos na qualidade da execução, por exemplo, os herméticos. Existem, porém, aqueles que usam personagens lineares, de sentido explícito, mas cujos elementos são desconhecidos, atingindo a surpresa do inusitado. E quando conseguem um resultado na atuação, crescem na recepção e podem ser pensados como uma bela metáfora, permitindo que o espectador possa dialogar, criando seu próprio sentido. É o que se dá com “O universo está vivo como um animal”.
A montagem da peça, idealizada por Isabel Teixeira, Diego Marchioro e Fernando de Proença, é estruturada por quadros imagéticos. O fio condutor é a vida e obra de Nikola Tesla, um dos maiores inventores de todos os tempos, com contribuições nos campos da engenharia mecânica e eletrotécnica. As patentes de Tesla e seu trabalho teórico formam as bases dos atuais sistemas de potência elétrica em corrente alternada. O inventor é um dos maiores gênios da humanidade e um dos mais importantes visionários do século XX.
Tudo é bem acabado, executado com elementos de sofisticação na montagem dirigida por Nadja Naira, que utiliza a luz como elemento central para explorar – entre passado, presente e futuro – as ideias revolucionárias de Tesla sobre energia, magnetismo, futurismo, eletricidade e democratização da luz. Os atores manipulam as lâmpadas fluorescentes, uma das invenções de Tesla, como agentes de cena. O desenho de luz da peça, assinado por Beto Bruel, é extraordinariamente lindo, arrojado, de uma contemporaneidade encontrada nas grandes exposições de artes visuais que já agregaram as encenações e a performance como elemento motriz. Como não se deixa nada de fora, a música-tema traz Ná Ozzetti e Ney Matogrosso cantando juntos pela primeira vez.
Ao ver a movimentação dos atores, a manipulação, começamos a pensar, primeiro, do que trata o teatro, a arte, até mesmo a vida. Trata-se de luz e sombra, de claro e do escuro, daquilo que se vê e o que oculta, aquela sombra que oscila entre dois mundos, mas que permite que se pense e se reflita. Esse é o movimento de “O universo está vivo como um animal”, que, na superfície, traz à luz a cena da vida de Tesla, totalmente desconhecida. Contudo, vão além e mostram que a força do teatro está na capacidade de contar histórias com elementos inusitados — um acerto do proficiente e talentoso grupo dos curitibanos Rumo de Cultura.
Fotos: Elenize Dezgeniski
Serviço:
CCBB, até 25 de junho
Quintas e sextas, às 19h30
Sábados, às 16h e 19h30
Domingos, às 18h