“Eu sou um robótico, um pierrô do Méier. Sou um homem que chora. Meu sentimentalismo é meu ponto forte” (Nelson Rodrigues)
A obra de Nelson Rodrigues, composta sob o signo da palavra inquietante, considerada por ele próprio como um teatro desagradável, a partir da apresentação dos temas do incesto, da violência, do sadismo, do masoquismo, do amor e da morte, da moral feminina/masculina, funciona como a construção dos Guerreiros de Xiam. Não existem dois soldados iguais.
A técnica consistia em, a partir de um número determinado de cabelos, faces, braços, torsos, pernas e pés, escolhia-se uma peça de cada parte e, com isso, fizeram-se peças únicas. Assim é a obra de Nelson, como fica claro nas três crônicas escolhidas para o monólogo “Pierro do Méier”, com Paulo Trajano. Estão lá a mulher que trai, o cunhado canalha, o aborto, a família falsamente casta, a adolescente devassa. Esses temas se misturam nas crônicas, nos contos, nas peças, e cada um delas é uma nova história.
No novo Espaço Abu, em um cenário minimalista, Paulo, trocando o chapéu e peças do figurino, transmuta-se em um derrotado, um narrador de um drama familiar e em um apaixonado pela castidade. A troca, “O monstro” e “Flor de Laranjeira” são interpretadas em uma boa escolha, com as belas canções que compõem a trilha. Paulo é um bailarino talentoso e experiente; usa os movimentos corporais para exprimir os sentimentos dos variados personagens: mulheres, homens, jovens, maduros.
Na intimidade que se cria, pela proximidade entre a pequena área e a plateia, o que se vê é um Nelson nu e cru. A performance de Paulo, sob a direção de Elena Gaissionok, cresce como um espelho não só das mazelas das almas, como também da solitária dança-contradança perfeita entre o arlequim, pierrô e colombina, na qual o pierrô sempre termina derrotado na sua tentativa de amor.
Serviço (até 21 de maio):
Espaço ABU: Av. Nossa Sra. de Copacabana, 249, loja E, Copacabana (21 994769510)
Sextas e sábados, às 20h
Domingos às 19h