Em grupo, costumamos brincar e escrever quais os pré-requisitos que a futura parceira (ou não) deve preencher. Vão desde altura, nome, profissão, opiniões, crenças, posições políticas e, até mesmo, escola de samba. No entanto, quando somos atraídos justamente pelo oposto, o que pode acontecer? A perplexidade de um encontro que se pretende casual e se transforma em uma DR – daquelas. Esse é o fio do festejado dramaturgo irlandês David Ireland no espetáculo inédito “O Fim da Esperança”.
Em cena, uma cama com um casal coberto. E aí já se percebe que veremos um espetáculo fora dos parâmetros tradicionais de trama, pois a personagem feminina, Janet, tem a primorosa interpretação de Thais Belchior, vestida de rato. Isso mesmo, Janet, com a fantasia de rato, acaba de transar com Dermot, vivido por Rafa Baronesi, capaz de mudar de humor com total eficiência, que é daquele tipo de nos tirar o fôlego. Essa, porém, é a menor das oposições.
A criativa direção de Wendell Bendelack mantém o ritmo dos diálogos e uma movimentação que se adapta ao redemoinho das palavras. As gargalhadas, os sorrisos, as reflexões, as surpresas acontecem perfeitamente de uma forma em que o texto é soberano, apoiado no trabalho corporal, na bela trilha sonora e na movimentação dos dois colchões que compõem o cenário e viram cama, sofá, estrado.
O texto vai em um crescendo para mostrar a profundidade dos contrários. Começa com ela contando uma história assustadora, que exigiria total sangue, e ele apavorado, até o golpe final: ele é um poeta renomado, um intelectual sofisticado e de primeira; ela trabalha em um supermercado; sua preferência na vida é acompanhar o BBB, por onde pauta as suas atitudes. Ao contrário do que diz o título, ao ver de que forma o que importa é o contato próximo, independentemente do que lhes é externo e longínquo, o nosso peito se enche de esperança.
Serviço:
Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, até 28 de maio.
Sextas e sábados, às 19h, e domingos, às 18h.
Vendas: funarj.eleventickets.com