O caráter autobiográfico das obras, muitas vezes, é rechaçado pelo próprio autor. Mas há autores e autores… A escrita de si, classicamente, é o termo que caracteriza quando o narrador em primeira pessoa se identifica explicitamente como o autor biográfico, mas vive situações que podem ser ficcionais. Esse exercício literário típico da modernidade se aguça com a presença fortemente selfie das redes sociais.
Heloísa Perissé, em “A Iluminada”, faz um caminho bastante original: em um monólogo, encena um talk-show com todas as características. A personagem tia Dora movimenta e interage com a plateia, faz exercícios, dá conselhos. Heloísa, que sempre foi bem-sucedida como autora, agora que conta algo que seja ressuscitador, dela e do público, convida Alex Lerner, o hábil repórter, para escreverem juntos o texto. O resultado é um roteiro parodístico, com piadas engraçadíssimas que, na voz de Heloísa, ganham um significado amplificado.
A direção de Mauro Farias traz ao palco uma movimentação, cria um diálogo com as telas, brinca com a luz e permite que todo o brilho seja mesmo para a iluminada. Heloísa, com um figurino ainda que um pastiche das executivas, é ótima — circula pelo palco, impecável nas frases rápidas, cortantes, tirando gargalhadas, daquelas que as pessoas se sacolejam nas cadeiras. Com a voz plena, consegue encarnar uma personagem que ri de si própria, de suas histórias e de suas dificuldades.
Serviço:
Teatro XP, no Jockey Club (Av. Bartolomeu Mitre, 1.110 – Leblon/Gávea)
Sexta e sábado, às 20h; domingo, às 19h
Até 21 de maio
Vendas online: https://bileto.sympla.com.br/ event/81466/d/187358/s/1269394
Informação: (21) 3807-1110