Na cultura ocidental, as mulheres sempre foram apagadas, esquecidas, desprezadas. Longe das luzes — confinadas ao calor do fogão, ao apuro da costura, ao cuidado com as crianças e à submissão, de todos os tipos, aos homens que a cercavam —, podem até ser nomes de ruas, mas nada muito além disso. Com Clara Santhana, “Outras Marias” apresenta várias Marias importantes na constituição da brasilidade.
O musical, escolhido para a programação de reabertura do Teatro Glauce Rocha, no Centro, comemora, ao mesmo tempo, o mês da mulher, pois enaltece a força dessas personagens históricas. O projeto nasceu da pesquisa da atriz e cantora Clara Santhana, conhecida por personificar Clara Nunes no musical “Deixa Clarear”; agora, ela evoca sete mulheres.
Nota-se que o fio condutor é bastante interessante, pois todas são figuras históricas que se chamam Maria, o nome de mulher mais popular no Brasil. Estão lá, mostrando como superaram todas as dificuldades, personagens, como Maria Bonita e Maria Felipa de Oliveira (que lutou na Conjuração Baiana, em 1798) e Marias que se tornaram divindades em cultos de origem brasileira e matriz africana, como as Marias Molambo, Navalha, Quitéria e a mais conhecida delas, Maria Padilha, amante de um monarca no antigo reino de Castela.
Clara é uma atriz vibrante e completa. Dança de forma encantada, com o ritmo, os gestos e as expressões corporais que as personagens exigem. Envolvida em um manto, do figurino funcional e bonito do premiado Wanderley Gomes, vai construindo as personagens ao mesmo tempo em que a voz e o cabelo acompanham a interpretação com tal veracidade que a plateia se surpreende com uma só atriz no palco. Linda, encarna essa força avassaladora com uma rara beleza: a das mulheres a quem nada é capaz de deter. Ave Maria!
Serviço:
Teatro Glauce Rocha, no Centro (Av. Rio Branco, 179)
Sexta a domingo, às 19h