“Ilíada”, o poema épico atribuído a Homero, passa-se durante o décimo ano da guerra de Troia e trata da ira de Aquiles, causada pela disputa entre Aquiles e Agamenon, comandante dos exércitos gregos em Troia. Considerada como a “obra fundadora” da literatura ocidental e uma das mais importantes da literatura mundial, tornou-se, juntamente com a Odisseia, modelo da poesia épica. A Ilíada é composta de 24 cantos, com cada canto correspondendo a uma letra do alfabeto grego.
Em um primoroso espetáculo, Daniel Dantas e Letícia Sabatella realizam a encenação dos Cantos 1 e 20, com direção de Octavio Camargo para a aclamada tradução da obra por Manuel Odorico Mendes, o intelectual maranhense que viveu no século XIX. Os atores apresentam dois cantos da Ilíada – Canto 1: o estabelecimento do conflito interno entre os gregos e suas motivações; e, o Canto 20: com o retorno triunfal e implacável do herói ao campo de batalha. Como se trata de um português pouco usual e repleto de palavras que jamais ouvimos, pois foi a primeira das chamadas traduções criativas, o diretor paranaense chega à boca de cena e conta todos os episódios que compõem cada canto. Então, chega Daniel Dantas e começa com uma figura da Antiguidade grega a recitar, com uma interpretação perfeita dos sentimentos que percebemos com a voz variando de acordo com cada personagem que encena. E para apoiar e facilitar o nosso entendimento, cada personagem tem a sua própria iluminação; o mesmo se segue com Letícia Sabatella.
Além do impacto da atuação, o que é absurdamente tocante é a clara percepção do talento dos atores. Sem titubear, sem tropeçar, contam e cantam os versos em uma língua que nos parece estranha, mas que faz sentido e que, a nossos ouvidos, soa vagamente conhecida. Merecem todos os aplausos por gravarem um texto de tal dificuldade e o transformarem em pura arte.
Fotos: Gilson Camargo
Em cartaz no Teatro XP Investimentos, no Jockey, na Gávea, até 02 de abril.