O Brasil tem ótimas “invenções”, entre elas, crediário, consórcio e carne de segunda. Em nenhum lugar do mundo, há essa classificação explicitamente qualitativa. É dessa metáfora que um trio feminino de primeira – texto de Marina Monteiro, direção de Natasha Corbelino, interpretação de Tatjana Vereza – faz de “Carne de Segunda” um verdadeiro filé de segunda.
A notícia é verdadeira: no interior do Brasil, uma mulher destrincha o marido. Era a açougueira juramentada, o primeiro ponto a despertar atenção na trama, pois essa é uma profissão incomum em mulheres. Vítima da violência doméstica, pois, quando ela se torna açougueira, o marido abandona o negócio. A frase “aí nasceu o patrão” é o exemplo claro do texto que constrói o conflito, expressa os sentimentos, a simplicidade dos personagens de forma incisiva e, ao mesmo tempo, poética.
A sóbria interpretação de Tatjana só aumenta a compreensão e a empatia da plateia. Sentada à mesa, vestida de branco (ótimo e atemporal figurino de Patricia Muniz), Tatjana desfia a história de forma cadenciada. Transforma-a em um grande poema, com a introdução das várias vozes daqueles que apontam o dedo para a personagem. Ressalta os seus defeitos e os dos outros que se omitem.
Serviço:
Sala Rogério Cardoso / Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema
Sextas e sábados, às 19h
Domingos às 18h