O ministro Alexandre de Moraes cometeu um erro gravíssimo esta semana.
Não, ele não mandou prender ninguém sem motivo justo, não violou a Constituição nem estacionou em vaga destinada a pessoa portadora de data de nascimento anterior a 1958.
Foi muito pior: chamou de “operação tabajara” o suposto plano arquitetado por um ex-deputado e um ex-presidente para desmoralizá-lo.
O que ele fez (e milhões de brasileiros fizeram ou ainda fazem) ao usar a expressão criada pelo pessoal do Casseta & Planeta agora é caracterizado como “racismo recreativo anti-indígena”.
Talvez você nunca tenha se dado conta, mas, ao dizer que um produto é tabajara, está cometendo “opressão racial”: a “circulação de imagens derrogatórias que expressam desprezo por minorias raciais na forma de humor, fato que compromete o status cultural e o status material dos membros desse grupo”.
Segundo a colunista de um site de notícias, “esse tipo de marginalização tem o mesmo objetivo de outras formas de racismo: legitimar hierarquias presentes na sociedade brasileira de forma que oportunidades sociais permaneçam nas mãos de pessoas brancas”.
Os jornais que chamaram de “Capitólio tupiniquim” a invasão do Congresso, do Palácio do Planalto e do STF também pisaram na bola: incorreram no erro de “usar o nome próprio do povo Tupinikim como adjetivo nacional brasileiro, ainda o associando ao ato antidemocrático e terrorista ensejado por bolsonaristas no último domingo (8) – ao mesmo tempo que apaga a luta de todo esse povo pelo reconhecimento enquanto povo originário”.
Ah, sim: e escrever “tupiniquim” também é racista. O “certo” é tupinikim: “A grafia por jornais e mídias do nome “tupiniquim” necessita ser abolida”.
Redobre o cuidado, de agora em diante, cada vez que abrir a boca se sentar diante do teclado. Tudo o que você disser ou escrever poderá (e, certamente, estará) sendo racista, sexista, capacitista e uma lista de outros “istas”.
“Sexo selvagem” é uma fetichização dos corpos dos silvícolas – ou não tinha percebido?
“Que loucura!”, bordão imortalizado pela socialaite Narcisa Tamborindeguy, embute preconceito contra portadores de distúrbios psíquicos.
“Creio em Deus Pai!”, dito na hora do espanto, marginaliza as religiões de matriz africana.
“Os opostos se atraem” trai a sua homofobia.
“Quem nasceu pra vintém não chega a tostão” é transfóbico.
“Mais vale um pássaro na mão que dois voando” é crueldade animal.
“O que os olhos não veem, o coração não sente” é capacitismo contra os portadores de deficiência visual.
“Pegou pesado!” é gordofobia.
O ministro Alexandre de Moraes deveria estar careca de saber que nem só de atos antidemocráticos vivem os inimigos do povo. Agora, bora calar o bico e começar a procurar cabelo em ovo.