Casamentos. Ah! Casamentos… Há os que se professam ótimos, há os que se dizem por conveniência, raríssimos falam de amor. O código moral brasileiro é a realização e salvação das mulheres – desde sempre. O espetáculo teatral “Cerca Viva”, dirigido por César Augusto, escrito por Rafael Souza-Ribeiro, em 60 minutos, um dos melhores da nova geração, consegue apresentar as pequenas e grandes mazelas do casamento.
A direção de César Augusto, cujo ecletismo permite que a interpretação dos quatro atores – Camila Nhary (Lúcia), Gabriel Albuquerque (Luiz), Valcir (Sávio Moll) e Regina (Ângela Rebello) – passe pela paródia um leve ar de chanchada, confrontos, epifania. As quatro atuações são equilibradas, com a emissão de voz perfeita (e graças, sem microfone) e com as falas perfeitamente adequadas ao caráter dos personagens. César explicita as rubricas do autor ora no texto, ora no gesto o que aguça o sentido do texto.
Tudo está em harmonia com o excelente texto de Rafael, o ótimo dramaturgo de Gisberta e de Malala. As frases são curtas, cortantes; os diálogos, rápidos; e os episódios cabem bem no palco italiano, porque a movimentação é constante. Há algo de cinematográfico, pois as elipses se explicam pela ação seguinte dos personagens. A construção é narrativa clássica com começo, meio e fim, uma verdadeira fábula, pois a mensagem vem ao final.
A trama se passa nos anos 1950, época exposta pelas canções, figurinos e objetos do cenário. Há um achado em cena: uma armação de metal é uma casa que se movimenta para criar a relação interior/exterior. É na nomeação dos personagens e no título da peça, que está a mensagem. A protagonista, Lúcia (luz) questiona todo o tempo como pode “iluminar” a sua trajetória de mulher. E fica claro que a vida, dentro de uma verdadeira cerca viva, não lhe interessa.
Serviço:
Teatro Firjan — Sesi Centro
Segunda e terças, às 19h