A casa brasileira tem identidade? Como tudo no mundo é universalizado e conectado, a casa também segue essa fórmula, ou seja, sem muita identidade própria. Entretanto, estamos no Hemisfério Sul, o clima é tropical e úmido, o que já determina peculiaridades e adaptações. Não dá pra pensar em trópicos sem iluminação e ventilação.
No primeiro item, a casa tropical está sempre associada à proteção solar através das treliças, brises, varandas ou na própria localização da construção no terreno, orientada pela posição do sol; nesse caso, procuramos um local sem grande incidência de sol da tarde. Quanto à ventilação, a troca de ar generosa é fundamental para que a casa tropical seja saudável, a conhecida “ventilação cruzada”, que já era usada desde os índios até os colonizadores portugueses — aberturas programadas, venezianas, treliças e, mais tarde, cobogós, até chegarmos aos grandes vãos e pilotis.
As palavras ecologia e sustentabilidade nos ajudam ainda mais, através dessa consciência em buscar uma identidade tropical, afinal, “o melhor lugar do mundo é aqui e agora”, como diria Gilberto Gil.
Perguntamos ao cenógrafo Alberto Renault, diretor do programa “Casa Brasileira” (sucesso entre os amantes de arquitetura e decoração) e do “De Casa em Casa”, programa do Youtube, que conta histórias de casas únicas, o que é a casa brasileira?
“Difícil generalizar diante das desigualdades sociais, mas, de certa maneira, a casa brasileira é fruto de uma combinação do clima tropical com as culturas que nos formaram: a europeia, africana e as dos povos originários. Nossa arquitetura é arejada e busca privilegiar espaços abertos, como as varandas. Adoramos as vistas, dialogamos com o clima e nos relacionamos intensamente com a natureza sempre que possível. Além de espontâneas, nossas casas são geralmente enfeitadas. As cores são bem presentes; definitivamente, não somos minimalistas”.
E continua: “A globalização, a busca pela praticidade e a economia disseminaram materiais industriais e perenes, como porcelanatos e tintas sintéticas, dando uma outra cara para as casas rurais e vernaculares. Vemos, de norte a sul, os mesmos revestimentos, esquadrias e parabólicas. Questões de (in)segurança determinam uma estética bélica. Novos tempos. O mundo encolheu, e fomos perdendo as soluções criativas e únicas de cada região. Mas adoro procurar as especificidades dos moradores, traduzidas na criação dos seus lares. Somos únicos, e isso se reproduz na nossa casa. É esse olhar que tento mostrar nos meus programas e também no livro ‘Fotos Caseiras’, que lancei recentemente pela Editora Capivara”.
Foto Alberto Renault: Arquivo site Lu Lacerda/Bruno Ryfer