“Estou inventando Rumo ao Farol – o mar deve ser ouvido por toda parte”, escreveu Virginia Woolf em seu diário, enquanto escrevia sua obra-prima. É dessa fonte, uma história autobiográfica em três movimentos, com um intervalo de 10 anos, que Cláudia Abreu retira os elementos para compor e estrelar “Virginia”, o monólogo de sua autoria. A vida, o pensamento, os embates e os movimentos como os das ondas, calmos, bravios, vindas e voltas são a estrutura do texto.
Com um longo que lembra as vestes de verão do final do século XIX e também as espumas das ondas, pois o figurino de Marcelo Olinto se encaixa perfeitamente nos movimentos da atriz, dirigidos por Márcia Rubin, Cláudia gira, abre os espaços para abraçar o espaço, a vida e seus pensamentos. Ela também dança: o corpo vira o perfeito tradutor da loucura, da admiração, da timidez, do amor inalcançável por Vita e do marido, Leonard.
A direção de Amir Haddad ressalta as boas características de Cláudia: ela não grita, enfatiza; não fala baixo, timidamente apresenta. Movimenta-se em cena em marcações que ocupam todo o palco, o que faz com que a atriz cresça. Aproveita o seu físico adaptado ao papel, a maior parte do tempo, para falar de uma jovem que encontra, em um grupo de jovens artistas e intelectuais, o Bloomsbury, que se reúne todas as quintas.
O texto é daqueles que nos criam emoções fortes. O vaivém da vida de Virginia, sua orfandade, sua dificuldade de saber em que trabalhar, suas relações com os irmãos, contemporâneos, sua vida amorosa desencontrada, sua arte estão, sem qualquer cronologia (o que é o ponto alto) da mesma forma que Virginia constrói a sua obra: fluxos de consciência que se misturam a fatos, não necessariamente verdadeiros. E o desempenho de Cláudia torna-se ainda melhor quando, no dia seguinte em que assistimos, ela foi diagnosticada com covid. Sua coragem, seu compromisso mostram o que é uma grande atriz.
Serviço: Teatro XP, no Jockey, Gávea
Quinta, sexta e sábado, às 20h
Domingo, às 19h