“Com meus punhos, posso lhe fazer sorrir, chorar e cantar, pois neles passo todo o sentimento do meu coração, e as baquetas reproduzem com o som”. Essa frase foi dita por André Manhães, mas bem poderia ser dita por João Vereza, escritor, que diz escrever ao ritmo das baquetas. É desse sentimento – de estar lá no fundo do palco, criando todas as emoções – que trata “O Baterista”.
Celso Taddei é o autor e idealizador do projeto; para tanto, reuniu outros três craques do riso: Diego Molina (diretor), Antônio Fragoso (ator) e Alexandre Regis (diretor-assistente). O monólogo tem como eixo todos os passos e dificuldades em ser baterista, essa posição semelhante à do goleiro. Sua presença não é notada, nem elogiada; agora, se erra, cai o mundo. O texto mostra, de forma clara e com ótimo ritmo do texto (sem trocadilho), as agruras de uma função que e de acompanhamento, escondido ao fundo da ação.
A trilha sonora é um roteiro para se compreender como a bateria não é um outsider, mas um elemento estruturante e fundamental. O pot-pourri de canções dos Beatles e muito rock’n’roll: de Bill Haley a Led Zeppelin, passando por The Who, Cream, Sex Pistols, Black Sabbath, The Police e Nirvana e de Bandas brasileiras – como Titãs e Paralamas do Sucesso – marcam um ponto alto dentro de gênero musical.
A direção de Molina não bate pesado, muito ao contrário. Todos os impasses são expostos com leveza na ótima interpretação de Fragoso. O fio condutor é uma “sala de aula” desmontada, em uma garagem, para qual se dirigem os alunos esquecidos. Paralelo a essa situação está o desmonte do casamento. Enquanto fala com a mulher, conta a história do instrumento, remonta a bateria, e revê suas emoções, desde aquelas que enlouqueceram sua mãe. Suas dificuldades com os outros músicos são o caminho para um ótimo resultado estético.
Serviço :
Teatro dos 4 – Shopping da Gávea
Quartas e quintas-feiras, às 20h