O que poderia ser mais chato, tedioso, no palco ou na vida, do que uma reunião dessas, com pouca agenda, além de aprovar o registro oficial da última ata? É do olho do conflito, a ausência da última ata, que a tradução (excelente) de José Pedro Pete chamou de “A Última Ata”. Com o nome original, “The Minutes”, é candidata a melhor peça de teatro nos Prêmios Pulitzer e Tony.
A direção de Victor Garcia Peralta faz uma alteração decisiva, que aguça ainda mais o sentido. No original, o cenário é a Câmara dos Vereadores. Victor localiza a peça em um teatro, praticamente abandonado, com o inteligente cenário de cadeiras meio detonadas, a mesa e um recanto para café e biscoitos. E um recurso muito interessante é que as três batidas para começar são dadas pelo martelo tradicional. Aí já se vê a forte presença da dramaturgia, da capacidade de representação para uma trama que se passa no mais cotidiano da vida.
Passada no tempo de duração da reunião, começa com diálogos formais, pequenos e banais comentários. No entanto, Letts, um mestre do macabro americano, vai aos poucos se afastando dos ingredientes medianos de comédia passada em local de trabalho. Mas o teatro não é um local de trabalho — é o palco para revelações do que é pior (raramente melhor) nas pessoas.
O elenco, formado por uma seleção de 11 craques, atua de forma primorosa. Analu Prestes, Mario Borges, Ary Coslov, Dedina Bernardelli, Leonardo Netto, Roberto Frota, Débora Figueiredo, Alexandre Dantas, Alexandre Varella, Marcelo Aquino e Thiago Justino interpretam pessoas comuns, aparentemente desinteressantes. À medida que a reunião prossegue, vão mostrando egoísmo, falta de empatia; são capazes de ir além do limite para manter seus interesses.
Serviço:
Teatro das Artes, na Barra
Sexta e sábado, às 21h
Domingo, às 20h