Continuando a série “Especial Eleições” com os candidatos mais pontuados ao Governo do Rio, Rodrigo Neves (PDT), é o último entrevistado. Terceiro colocado nas intenções de voto, ex-prefeito de Niterói por duas vezes, Neves é formado em Ciências Sociais e está na vida pública desde 1990. Como vice na chapa, o ex-presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.
Por que se candidatar ao governo do Rio?
Sou uma pessoa realizada por ter sido duas vezes prefeito da minha cidade e por tê-la transformado na melhor em qualidade de vida do Estado e uma das melhores do País para viver e ser feliz. Concluí meus dois mandatos com mais de 80% de aprovação popular e elegi meu sucessor no primeiro turno. Mostramos que com boa gestão e transparência é possível transformar a vida das pessoas. Isso é o que falta ao Estado do Rio atualmente. Passei os últimos dois anos me dedicando à minha vida acadêmica, privada e à família, e poderia ter continuado neste caminho, mas decidi ser candidato a governador diante da grave crise do Estado e eu não poderia me ausentar em um momento tão crucial. Esta é a eleição mais importante desde a fusão entre a Guanabara e o antigo Estado do Rio — que tinha Niterói como capital. Esta eleição vai ser um divisor de águas na nossa história: se não mudarmos o rumo das coisas pode ser que daqui a quatro anos não haja mais um estado para governar, pois há grande possibilidade de o crime tomar conta do poder público em definitivo. Sou candidato por entender que temos a possibilidade de reconstruir o Rio a partir das experiências de administração pública comprovadamente bem-sucedidas que estamos apresentando ao povo carioca e fluminense, com ações efetivas baseadas em planejamento, metas, acompanhamento, fiscalização e muita entrega de serviços públicos de qualidade. Sou candidato porque vislumbro uma oportunidade de futuro melhor para o nosso povo a partir da união entre as duas melhores escolas de gestão pública do nosso estado, o modelo de gestão do PDT na cidade de Niterói e o modelo de gestão do Eduardo Paes na capital.
O histórico de governadores no Rio não é nada bom. São 40 anos de governos corruptos. Já virou quase uma característica. Quais as principais diferenças entre você e os demais?
Tenho 20 anos de vida pública: já fui vereador duas vezes, deputado duas vezes, secretário municipal, secretário estadual e prefeito duas vezes. Órgãos de controle como o Ministério Público e o Tribunal de Contas existem para fiscalizar a gestão pública e todos os políticos têm obrigação de prestar contas sobre o que fazem com o dinheiro público. De minha parte, sempre cuidei com muita seriedade e muito zelo do orçamento público, não à toa, levei a Prefeitura de Niterói a conquistar o prêmio da Firjan de primeiro lugar em gestão fiscal no Estado, entre outros prêmios entre 2013 e 2020. Quando assumi a Prefeitura, a dívida era de R$ 1 bilhão, que eu zerei na minha gestão — havia contas a pagar até 2028, e foram pagas antecipadamente, inclusive. E eu concluí meus mandatos oito anos depois deixando Niterói com mais de R$ 1,5 bilhão em caixa. Por exemplo, quando pouco se falava em Reestruturação da Previdência eu reestruturei a previdência de Niterói, em 2013, e o Fundo de Previdência saiu de R$ 12 milhões que haviam sido poupados durante 30 anos e chegou a mais de R$ 700 milhões em oito anos. Isso é dinheiro do povo e está sendo usado para melhorar a vida do povo. O resultado disso é que fizemos de Niterói a cidade número um em qualidade de vida no estado do Rio, com os melhores indicadores de IDH, redução da violência com investimentos em infraestrutura policial e inteligência, em agentes de segurança, monitoramento em cercamento eletrônico; temos a cidade mais limpa do estado; temos praias e lagoas despoluídas; realizamos uma grande reestruturação urbanística da Região Oceânica ao Centro, ampliamos investimentos em mobilidade urbana, construímos mais de 50 quilômetros de novas ciclovias e criamos novos corredores viários para desafogar o trânsito, entre tantas outras coisas que realizamos na cidade. Estes bons resultados em Niterói foram possíveis porque fizemos um investimento pesado em tecnologia para integrar os sistemas de pagamento e gestão orçamentária, o que permitiu ao cidadão e aos órgãos de controle ter informações sobre a execução do orçamento público e permitiu a mim fazer uma gestão fiscal responsável, profissional, com muito planejamento, metas claras, acompanhamento da execução e foco em resultados, sempre com o objetivo de melhorar o gasto público. Ao contrário do que fiz em Niterói, hoje o Governo do Estado do Rio tem uma Secretaria de Fazenda anacrônica e atrasada. Falta transparência, faltam mecanismos mais simplificados, falta um sistema tributário menos burocrático, tudo isso é impeditivo do investimento privado. É preciso reestruturar e modernizar a administração pública.
A fazer aliança com algum dos seus concorrentes, qual seria? Por quê?
Nossa aliança vai vencer as eleições e governar com todos aqueles que se propuserem a defender a Democracia e que estiverem verdadeiramente empenhados na missão de reconstruir o Rio e transformá-lo no melhor lugar para viver, trabalhar e ser feliz.
Das tantas tragédias atuais na vida dos cariocas, qual a que mais o comove?
Como pai de família, sociólogo, gestor público e cidadão me comovo com muita coisa errada. Venho estudando profundamente nosso estado e nosso país e há duas tragédias sociais que são incomparáveis: a fome e a morte por violência. Me dói saber que há em nosso estado 3 milhões de pessoas sem ter o que comer, sem ter como sustentar suas famílias, vivendo em total desalento e abandonadas pelos governos. E é igualmente revoltante que milhares de cariocas e fluminenses sejam assassinados todos os anos em consequência da violência e da visão antiquada sobre Segurança Pública, que deixa o povo à mercê da criminalidade. Em meu governo nós vamos trabalhar firme para mudar este cenário. O combate à fome é uma decisão política, pois há orçamento e há ferramentas para acabar com esta mazela, e estou com todo o projeto pronto para iniciar este trabalho imediatamente ao assumir o Governo: vamos criar um programa de renda básica com auxílio de R$ 500 para as famílias mais pobres do estado, e dar a elas oportunidade para buscar emprego, educação, saúde e moradia, pois isso trará de volta a dignidade das famílias que hoje vivem em situação de miséria em nosso estado. A violência só recuará quando houver um planejamento estratégico para retomada dos territórios dominados pelo crime, e em nosso governo isso vai acontecer porque nós vamos colocar o Estado à disposição da população, com serviços públicos e atenção básica ao povo. Em paralelo teremos uma Secretaria de Segurança bem estruturada, policiais valorizados, bem treinados e bem orientados, e políticas sociais que tratem os moradores de comunidades como cidadãos que são, com respeito e dignidade.
Qual a ordem de prioridade pro senhor: educação, saúde e segurança? A saúde tem jeito?
Posso dizer que temos duas prioridades: gerar emprego e renda e combater a fome. Vamos criar um programa para gerar 150 mil novos empregos em frentes de trabalho que atuarão na reconstrução do estado e acabar com a fome que aflige mais de 3 milhões de cariocas e fluminenses. Para além disso, o estado precisa de reconstrução. Teremos que atuar fortemente em Educação, Saúde e Segurança ao mesmo tempo, e também na Economia, Ação Social, Infraestrutura, Transportes, Cultura, Meio Ambiente, Esporte e Lazer, Turismo, Agricultura. Nós temos visto governos que escolhem um ou dois setores para cuidar e nos demais apenas cumpre tabela, empurra com a barriga, vai levando. Nós mudaremos isso com uma gestão 360 graus, que olhe para todas as necessidades do povo ao mesmo tempo. A Educação é imprescindível. A Educação é, por exemplo, o meio mais eficiente para redução da violência e da criminalidade. Uma criança que se interessa por livros, uma criança que tem acesso ao conhecimento e à Cultura, uma criança que empunha um instrumento musical, dificilmente empunhará uma arma na vida. E olhando para outro setor, com outro viés, digo que o caminho para o desenvolvimento econômico e social de um lugar também passa pelo nível educacional do seu povo. Por isso, nós vamos trabalhar para reabrir todos os CIEPs abandonados, implementar ensino em tempo integral e oferecer ensino técnico profissionalizante em todas as regiões do estado, para que os jovens tenham mais e melhores oportunidades de se desenvolver. E vamos apoiar as 92 prefeituras do nosso estado na implementação de novas creches e tempo integral, pois sabemos que para as famílias que trabalham fora, especialmente para as mulheres, é inviável conseguir um trabalho que traga independência financeira se elas não tiverem onde deixar os filhos. E não estou falando aqui em criar ‘depósitos de crianças e jovens’, tenho a convicção de que é possível implementar uma Educação cidadã, emancipadora, formadora do pensamento crítico, formado de seres humanos melhores. A Saúde tem jeito, sim, mas não podemos repetir os erros do passado. O atual governador, Cláudio Castro, é vice do juiz Witzel, que foi impichado do cargo por corrupção na área da Saúde durante a pandemia. Este governo tem tudo de errado ao mesmo tempo: é inexperiente e corrupto, inepto e incauto, e comprometido com aqueles que há décadas vêm saqueando nosso Estado. É preciso mudar para dar jeito na Saúde, mas é preciso sobretudo mudar com quem sabe governar, e isso eu e o prefeito Eduardo Paes — meu aliado nesta jornada —, modéstia à parte, já comprovamos saber.
O senhor colocaria um filho numa escola pública no Rio? Por quê?
Eu sou cria da Educação Pública, sou filho de professores, irmão de professores, marido de professora, e em Niterói realizei os maiores investimentos da história da cidade em Educação, com valorização dos professores e ampliação da infraestrutura educacional do município. Hoje meus três filhos já estão criados, são todos adultos, mas confio na Educação Pública e respondo que, sim, colocaria meus filhos em escola pública se isso não fosse tirar vagas de estudantes que precisam mais do que eles.
Quais as três primeiras providências se eleito?
Criar um programa de renda básica com auxílio de R$ 500 para o povo mais pobre do Estado do Rio de Janeiro; criar um programa para gerar 150 mil novos empregos em frentes de trabalho que atuarão na reconstrução do estado do Rio de Janeiro, recuperando todos os CIEPs, hospitais, postos de saúde e, em parceria com a iniciativa privada, ampliando o sistema de saneamento básico levando água e esgoto tratado para todas as regiões do estado.
O que existe de tão atraente na política com tanta gente interessada nesse cargo?
ão posso responder pelos outros, mas digo que no meu caso o que me atrai na política é a possibilidade de trabalhar para transformar as vidas das pessoas para melhor. Sempre atuei para que as pessoas tenham acesso a serviços públicos de qualidade, que lhes atendam de acordo com suas necessidades, pois desde os mais pobres até os mais ricos, todos têm necessidades a serem supridas pelo poder público. Agora falando como Sociólogo, no sentido amplo, todos os cidadãos que vivem em sociedade estão praticando política. No sentido estrito, da política pública ou partidária ou eleitoral, entendo que os assuntos políticos deveriam atrair a todos os cidadãos, pois viver coletivamente exige que a gente conheça e participe das decisões políticas que apontam o caminho para onde vamos enquanto sociedade.
O que pretende deixar de mais importante ao fim de seu governo?
Pretendo fazer do estado do Rio de Janeiro o melhor lugar para viver, trabalhar e ser feliz, e tenho plena certeza de que isso é totalmente possível, com muito planejamento, muito trabalho, boa gestão e compromisso com o povo. O Estado do Rio pode ser a referência da economia verde, do conhecimento, do bem estar e qualidade de vida no Brasil.
Que cidade citaria como exemplo? Por quê?
Considero Barcelona um bom exemplo. Até pelas características próprias muito parecidas com o Rio. A cidade é referência em modelo de gestão, segurança e recuperação urbana. A região do porto e da Barceloneta, por exemplo, que eram completamente degradadas, hoje são pontos turísticos. A região foi aproveitada também como área de moradia, movimentada o ano inteiro. A vocação turística, cultural e artística também é muito parecida e eles souberam aproveitar isso, com planejamento e políticas públicas acertadas. Na parte de infraestrutura urbana, destaco a boa integração dos modais de transporte municipal, estadual e federal, principalmente sobre trilhos.
E a vida cultural como anda? Qual a última peça, o último filme, o último livro?
A última peça que assisti foi “Histórias do Porchat”, com o talentoso Fábio Porchat. Filme eu assisto sempre que tenho um tempinho livre, o que tem sido difícil durante a campanha eleitoral. Na correria desses dias, o último filme que assisti foi “Encanto” com minha netinha de 3 anos, a Manuela. Estou relendo “Dom Quixote de La Mancha”, uma delícia de livro e obra prima de Cervantes.
O que o senhor acha de políticos que mentem?
De modo geral e por si só a mentira já é um grande mal, seja no âmbito social ou familiar, e quando a mentira é proferida por alguém que deveria ter responsabilidade com a sociedade que o elegeu, isso é pior ainda. As fake news que estão assolando a política brasileira são uma demonstração do poder destrutivo que a mentira tem sobre um país inteiro. A Bíblia traz referências muito fortes sobre este assunto. Há um salmo que diz que “O que usa de fraude não habitará em minha casa; o que profere mentiras não estará firme perante os meus olhos”; e um Provérbio de Salomão que diz que “Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor”. Escolho sempre o caminho da verdade.