Depois de inúmeras pessoas na faixa de 50 anos morrerem de infarto, como exemplo, o cineasta Breno Silveira (58 anos), o empresário João Paulo Diniz (58 anos), o diretor de arte Tiago Marques (49 anos) e o empresário Ipe Palhares (52 anos), e muita gente fazer associação com a covid-19, ouvimos alguns cardiologistas sobre o assunto:
Ana Luiza Moreno: “Sabemos que a inflamação é uma grande característica do coronavírus e ela pode acontecer em vários órgãos, inclusive no coração, que é a miocardite. Além disso, existe uma chance aumentada de eventos trombóticos, um efeito pró-trombótico do coronavírus, que também pode acontecer em diversos órgãos – se é no pulmão, temos uma embolia pulmonar; nos vasos, a trombose venosa profunda; no coração, um infarto agudo do miocárdio. É preciso prestar atenção se aquele paciente tem fatores cardiovasculares para um infarto, se é diabético, hipertenso, tabagista… Isso tudo agrega um risco cardiovascular, que poderia ser aumentado. Se for alguém jovem, sem histórico familiar, precisamos levantar a hipótese de coronavírus como fator causal. Outra questão é que a maior parte, com fatores de risco perderam o segmento durante a pandemia e muitos voltaram a fumar, teve o aumento do etilismo, diminuição da atividade física. Isso tudo contribui para a piora dos fatores de risco cardiovasculares. No entanto, nem sempre é fácil estabelecer essa relação do infarto com o coronavírus.”
Cláudio Domênico: “Existe uma série de fatores para o aumento dos enfartes. A covid afastou as pessoas do check-up; de maneira geral, os diagnósticos foram represados ou feitos com atraso. Muita gente comeu mais, bebeu mais e virou sedentária. O próprio vírus pode atacar o coração com miocardite, pericardite. Houve aumento de ansiedade, depressão, angústia provocados pela covid, muita gente deprimida, ou seja, é multifatorial. Não é um fator isolado, mesmo em pessoas mais jovens. Eu diria que a covid aumentou de forma objetiva problemas cardiovasculares, mas considero um assunto complexo para ser falado assim.”
José Kezen: “Esse ‘aumento’ de eventos cardiovasculares agora pode ter sido causado pela diminuição nos exames preventivos (nos anos de 2020 e 2021) – com a pandemia, as pessoas fizeram menos exames. Cientificamente falando, não temos como atribuir atualmente o aumento do número de infartos nem com a covid, nem com a vacina. Também não tem associação com a faixa etária especificamente. É uma ocorrência que aumenta progressivamente após os 40 – se você tem mais de 40, o ideal é estar com seus exames preventivos em dia. A partir dessa idade, vai aumentando a incidência. Não existe uma data ‘marcada’, tipo 50 anos — seria mais perigoso.”