O GLOBO de ontem trouxe uma matéria sobre os “cinco hábitos que todos devem evitar para proteger seu cérebro”.
Achei que o primeiro, e mais letal, fosse conviver com zumbis e se meter em tretas na internet — o que dá mais ou menos na mesma. Nada, a meu ver, poderia causar mais danos à massa encefálica.
Mas não: a pior coisa para o cérebro é… dormir mal.
Quem sou eu para duvidar do tal neurocientista que organizou a lista, mas, se isso fosse verdade, meu derradeiro neurônio teria esticado as canelas há muito tempo. A última vez em que dormi direito deve ter sido em alguma encarnação pretérita.
A insônia me persegue desde o berço — e me acompanhou na cama de solteiro no quarto com meus irmãos, no beliche na república de estudantes, no colchonete nas aventuras de camping, nas poltronas dos ônibus-leito, nas cabines de trens, na cama de casal, nas macas de hospital e, suponho, estará do meu lado no forno crematório. Sim: algo me leva a crer que, por uma questão de coerência, não terei direito ao sono eterno, mas a uma vigília perpétua.
Diz o artigo: “Pesquisas sugerem que a privação do sono pode prejudicar o aprendizado, o desempenho cognitivo e retardar o tempo de reação. ” Está explicado por que não consigo aprender a mexer no Instagram, a entender quem vota em Lula ou em Bolsonaro e a desligar o gás antes que a torrada esturrique.
O segundo hábito ruim seria não meditar. Bastariam 10 minutos por dia. Se eu tivesse 10 minutos de sossego, talvez aproveitasse para tirar um cochilo, isso sim.
O terceiro, consumir álcool. O uso prolongado pode resultar em problemas de aprendizado e memória. Deve ser por isso que não consigo aprender a mexer no Instagram. Eu ainda não tinha falado nisso, tinha?
Quarto problema: ser sedentário.
Bem, eu escrevo. Muito. Ninguém consegue escrever pulando corda, fazendo supino, pedalando na orla ou correndo a São Silvestre. Me levanto da cadeira umas três vezes ao dia para fazer café ou um gin tônica. Ou para pegar o telefone e reclamar da vizinha, que arrasta móveis das 7h30 às 23h45, non stop. Não fossem o Tião e a Duda, meus personal dogs, me cravarem as unhas pedindo para sair, eu não botava o pé fora de casa.
“A atividade física libera BDNF, uma proteína neural que diminui a névoa cerebral e aumenta sua capacidade de aprender. ” Deve ser por isso que eu… não, acho que já mencionei meus desentendimentos cognitivos com o Instagram.
Finalmente, o quinto inimigo do cérebro é ser indeciso.
“Tomar decisões com firmeza pode ajudá-lo a se concentrar melhor a longo prazo e toda vez que você toma uma decisão, você ensina seu cérebro a se concentrar em uma coisa de cada vez. Isso também resulta em menos confusão mental, reduz o estresse e diminui os níveis de ansiedade. ”
Me estresso pouco — apenas com a vizinha (que, por sinal, arrasta móveis neste exato momento), e só fico ansioso em dias úteis e fins de semana. Só não estou muito certo se sou indeciso ou não.