“A arte existe porque a vida não basta”. A frase do escritor Ferreira Gullar (1930-2016), um dos fundadores do Neoconcretismo, tem força e verdade. Sem a arte, nossa vida seria bem sem graça, e a casa seria apenas um espaço com um teto, portas e janelas. Através desse olhar lúdico, inconformado e poético sobre a vida, criamos novos olhares sobre absolutamente tudo e, na casa, imprimimos estilos arquitetônicos, design e personalidade.
Hoje aprendemos que, além desse olhar único, temos que compor aliados à natureza. Estamos pagando um preço alto e sofrendo as consequências do individualismo, de apenas usarmos o que está em volta sem nos preocuparmos como vamos descartar ou o que vai acontecer com as sobras.
A natureza nos deu um ultimato nos últimos anos, e quem já estuda ou entende como ela funciona está tentando trazer para nossa cultura, principalmente a Ocidental, um novo conceito de viver, morar e alimentar.
Precisamos fazer uma mudança e nos reinventar, criar novos hábitos, novos conceitos estéticos e adaptar o olhar. A arte tem sido uma grande e valorosa professora. Transgressora por excelência, a arte molda sem que possamos perceber. Trazer a arte para dentro de casa já era, desde os tempos das cavernas, uma necessidade do ser humano.
Arte é livre e é tudo de que precisamos para entrar na nova era. Liberdade para aprender como a natureza, para compor o entorno, contribuindo para que todos possam se beneficiar com nossos atos, nossa evolução, enfim com a nossa vida.
Perguntamos à arquiteta e artista Patrícia Secco sobre a arte em casa. “A arte salva; se não tivesse arte, as pessoas pirariam no exílio da pandemia. Nunca se vendeu tanto obra de arte nesse período. Atualmente, a arte ficou ainda mais importante, pois tornou-se uma referência afetiva em qualquer tipo de arte, desde a filosofia, a literatura, design e arquitetura. Não sou negacionista e sei que vivemos ainda um momento muito frágil em todos os sentidos; por isso, acredito que quem se harmonizou por dentro se harmonizou por fora também. A arte foi fundamental para suavizar esse momento. Em um futuro próximo, a arte vai representar ainda mais a alegria de estar vivo, de comemorar o bem-estar de estarmos em harmonia com a natureza. Contextualização é a palavra do momento. Interligação e harmonia entre todos com o Planeta e tudo misturado a um olhar lúdico e poético. Ah, que futuro maravilhoso! Viva a arte!”