“Administrar crises” é passado para a nova geração de produtores de eventos. Assim como a extinção da tríade sexo, drogas e rock’n’roll nos bastidores do mundo do entretenimento, os nomes por trás de grandes shows e festas preferem a discrição e pensam muito mais em sustentabilidade do que qualquer ministro do Meio Ambiente, se é que vocês me entendem.
É esse o jeito de viver do carioca Luiz Guilherme Niemeyer, 27, que começou a circular nos bastidores ainda criança — aos 12 anos, dividia o palco das areias em frente ao Copacabana Palace, com o Rolling Stones, em 2006. Luiz é filho de Luiz Oscar Niemeyer, um dos maiores do showbusiness brasileiro, que trouxe nomes, como Elton John, Paul McCartney, Bob Dylan e Stevie Wonder. LG, seu apelido, é neto do neurocirurgião Paulo Niemeyer (1914-2004), cresceu no meio de nomes famosos, mas praticamente não sabe o que é ego.
Aos 15, pediu para trabalhar no escritório do pai, a Planmusic, que promoveu o Hollywood Rock, de 1988 a 1993, e o show de Paul McCartney no Maracanã, em 1990 – e também as últimas turnês do ex-Beatle no Brasil, de 2010 a 2014. Guilherme começou fazendo cópias de chaves, depois fotocópias de documentos e passou por praticamente todos os estágios de uma produtora.
Hoje, ele comanda a empresa Bonus Track, da qual é sócio com o pai. Faz toda a programação cultural do Teatro XP Investimentos (inaugurado em 2017), no Jockey; produz o Camarote da Portela no carnaval da Sapucaí; e se prepara para incluir um festival no calendário da cidade, o “MITA — Music Is The Answer”, com a primeira edição em maio de 2022, com uma lista de nomes nacionais e internacionais variadíssima. São 16 apresentações em dois palcos por fim de semana, seguindo o modelo de festival diurno, uma tendência. Tudo que LG faz tem um olhar além da diversão, pensando em deixar algo além da música. “Um evento não deve terminar depois do último show. Ele se perpetua durante todos os meses seguintes, enquanto estimularmos uma mudança de comportamento nas pessoas”, diz. Para o MITA, ele fez parceria com a ONG Gerando Falcões, de Edu Lyra, que foca na transformação através da educação; e com o Instituto Vida Livre, criado por Roched Seba, sobre soltura de animais em risco no estado do Rio.
[top5] numero:1 [f] titulo:Como um produtor de eventos se virou na pandemia? [f]
desc:No primeiro momento, foi muito difícil assimilar porque existiam muitas dúvidas e a gente não sabia quando voltaria. Foi um momento de instabilidade, de conversar com nossos parceiros, fornecedores, tentar segurar e enxugar o máximo possível. Mesmo assim, conseguimos manter os funcionários (mais ou menos 70, entre diretos e indiretos). Como somos do setor criativo, começamos a pensar nas possibilidades e, obviamente, o digital serviu como um caminho possível. Começamos, então, a fazer lives uma vez por semana, com convidados do meio cultural, em parceria com o diretor teatral Jorge Farjalla, no projeto “Uma Lâmpada Acesa: O Teatro da Espera”. Não era financeiramente relevante, mas um caminho para manter o teatro ativo num momento delicado. Também investimos no “Fome de Música” em lives com artistas, como Jorge e Mateus, Marília Mendonça, Xand Avião e Gusttavo Lima, que arrecadaram toneladas de alimentos. [/top5]
[top5] numero:2 [f] titulo:E sua impressão com a volta dos eventos? [f]
desc:É uma demanda reprimida; as pessoas não viam a hora de sair, encontrar os amigos e se divertirem. No caso do XP, foi uma grata surpresa porque ficamos quase dois anos fechados, e o retorno foi avassalador. Tivemos uma das melhores temporadas da história do teatro em termos de audiência, com a Susana Vieira (com o monólogo “Uma Shirley Qualquer”). Mas eu diria que o setor de entretenimento ainda está sendo impactado porque existe um cenário de incerteza com a chegada da variante Ômicron. As pessoas estão sem saber se vão ou não ao carnaval; daí ser uma coisa nebulosa. [/top5]
[top5] numero:3 [f] titulo:E as expectativas para o MITA? [f]
desc:São as maiores possíveis porque ficamos cinco anos planejando. Foram muitas conversas, versões diferentes, porque inicialmente seria um dia em cada cidade, mas acabou sendo dois, até para movimentar a economia. Esperamos 25 mil pessoas por dia, num lugar novo, um “line up” trabalhado com cuidado. [/top5]
[top5] numero:4 [f] titulo:Quais as tendências dos festivais pós-pandemia? [f]
desc:A ideia é a diversidade, misturar estilos, bandas e músicos não muito conhecidos com pessoas já consagradas, como D2, Gil, misturar gêneros. Nos últimos anos, visitei alguns festivais do Brasil e do mundo para ter referências: o Primavera Sound, em Barcelona; o Coachella, na Califórnia; o Lollapalooza, em Chicago. Enfim, todos são diurnos e têm essa tendência multigênero musical, pois é a mistura que dá o caldo. Além de diurnos, acontecem no coração da cidade, que é um conceito que trouxemos para o Jockey, um lugar inserido na Zona Sul, o que vai aumentar a economia local porque antes as pessoas podem ir a um bar, a um restaurante e acabam consumindo mais. [/top5]
[top5] numero:5 [f] titulo:O Rio está carente de eventos? [f]
desc:Não, mesmo porque tem muita coisa acontecendo agora, mas acho que o Rio tem pouca ação para o entretenimento, para a cultura, porque somos uma cidade que sabe receber grandes eventos e acho que poderíamos ter um incremento, uma agenda mais extensa, como vemos mundo afora. Eu trabalho pra isso, sou carioca orgulhoso, e todos os meus projetos são pensados primeiramente para o Rio. Mas acho que é uma questão coletiva; as pessoas precisam entender a grandeza e a importância desses eventos. [/top5]
[top5] numero:6 [f] titulo:Conta algum grande momento de bastidor. [f]
desc:Sem dúvida, foi o Rolling Stones em Copacabana. Ali, vendo aquele mar de gente pulando e cantando, pude ver, realmente, a dimensão do que meu pai fazia. Eu era criança e foi absolutamente impactante. O Paul McCartney foi um dos que me deram mais experiência: dos 26 shows no Brasil, fui a uns 20. Ele costumava sair do camarim e dar uma volta no estádio para reconhecer o local. Certa vez, ele apareceu vestido de boxeador, brincando com os faxineiros do estádio. Outra vez, ele veio em minha direção; fiquei sem saber o que fazer, e comecei a cantar “Hey Jude”. E para minha surpresa, ele acompanhou e cantou a música inteira junto. Em 2016, eu era um dos condutores de palco do Rolling Stones e responsável pelos ensaios. Quando vi, era somente eu, o coral, a orquestra e a banda durante um ensaio no Morumbi. Foram memórias impactantes. [/top5]
[top5] numero:7 [f] titulo:E como é trabalhar com o pai? [f]
desc:É uma arte. Fui aprendendo ao longo do tempo. Ele sempre foi durão, mas muito paciente; sempre tivemos uma boa relação. Às vezes, a inexperiência não me permitia entender algumas coisas, mas ter entrado muito novo foi bom porque hoje temos uma relação profissional e pessoal muito fluida, de respeito, admiração mútua, confiança, o que é essencial. [/top5]
[top5] numero:8 [f] titulo:O segredo de um produtor bem-sucedido? [f]
desc:A meu ver, a produção é um mercado ainda em desenvolvimento e, olhando para a carreira do meu pai, eu diria que credibilidade é a chave do negócio — cumprir o que combina, entregar o que promete, ser profissional e deixar o ego de lado, não querer ser maior do que seus projetos, que seus artistas, enfim, é por aí… [/top5]
[top5] numero:9 [f] titulo:O que é mais difícil numa produção? [f]
desc:A burocracia no Brasil é muito complicada. São muitas taxas, licenças, é um trabalho hercúleo, o que acaba inviabilizando muitos projetos, mas não tem jeito: temos que lidar com isso, mas, com certeza, é um calcanhar de Aquiles. Mas a nossa produtora já tem os contatos, a credibilidade necessária — isso já é meio caminho andado. [/top5]
[top5] numero:10 [f] titulo:Você tem tempo para o lazer? [f]
desc:O que eu mais amo fazer é ir para o mato, adoro animais. Temos um sítio em Itaipava e, sempre que posso, vou pra lá, me reconectar com a natureza. Adoro ir à praia, jogar minha altinha e curto fazer música com meus amigos; também toco bateria e violão. É preciso arrumar tempo pra gente, o ócio criativo. [/top5]