Arquitetos falam muito em fluxograma e mobilidade. Uma casa funcional tem espaços que se relacionam e criam um fluxo ideal, mas nem sempre isso acontece. E, quando os espaços não seguem uma sequência racional, a casa não nos proporciona bem-estar ou conforto. Na casa primitiva, tudo girava em torno da cozinha; cozinhar era a função principal.
Com o tempo, as atividades se multiplicaram e, curiosamente, hoje, a casa contemporânea pós-pandemia voltou a ter determinadas funções que eram normais em séculos passados, como trabalhar, por exemplo, e viver mais tempo dentro dela. A casa pós-pandemia é prática e funcional, promove o bem-estar e está cada vez mais identificada com o seu dono.
Para os arquitetos, as sequências lógicas dos espaços, seguindo um fluxograma básico e funcional, são: sala, varanda, cozinha e área, circulação, quartos e banheiros. As cozinhas podem ser abertas ou não, a circulação garante uma privacidade para os quartos e os banheiros com a praticidade da proximidade do quarto. Tudo, preferencialmente, com janelas.
Perguntamos à Ana Cecilia Lage Tourinho, jovem arquiteta especialista em mobilidade urbana, formada em Paris e na cidade do Porto, sobre mobilidade. “Da mesma forma que os urbanistas narram sobre a importância da apropriação do indivíduo pela cidade e os espaços públicos, acredito que o mesmo aconteceu com os indivíduos e suas casas. Nós nos apropriamos e ressignificamos os espaços das nossas residências, investindo em novos usos e funções através de um novo fluxo de movimentos e deslocamentos diários nunca antes vividos. Passamos a valorizar áreas subutilizadas, a dar mais conforto e aproveitamento de todo e qualquer espaço de que dispomos”.
E continua: “Fomos resilientes e exploramos da melhor forma a nossa casa. Foi um desafio enorme moldar nossas casas para comportar toda nossa rotina, e muitos tiveram o privilégio de poder significar seus cômodos e móveis para receber a nova dinâmica. Entretanto, a perda do espaço coletivo e público da cidade nunca poderá ser reproduzida num espaço privado. Ao ficarmos limitados a circular na cidade, perdemos os pequenos encontros e descobertas pelo caminho, as cores, cheiros e barulhos, os imprevistos e surpresas que davam graça à nossa rotina. Nosso perambular pelas ruas foi substituído pelo andar dos corredores de nossos cômodos. Assim como fomos capazes de transformar o espaço residencial na pandemia, acredito que vamos ter a mesma oportunidade de ressignificar e potencializar o espaço público das cidades pós-pandemia.”