Quem me conhece sabe que sou tipo São Tomé, aquele que tem que ”ver pra crer”, ou seja, experimentar na pele, para tirar minhas próprias conclusões ou, ao menos, despertar a reflexão para, juntos, evoluirmos. Quem sabe?
O tema de hoje é “mindfulness”, e não há como duvidar que a prática dedicada pode aguçar a concentração, possibilitar o mergulho interior, aumentar o foco e flexibilizar a capacidade mental – promover comportamentos menos imediatistas e reativos, de modo a encarar os desafios com uma visão mais ampla e menos emocional.
Entretanto, aprofundando-me no tema, concluí que pode haver a possibilidade, em alguns contextos, do desenvolvimento de um comportamento mais egoísta e menos empático.
Michael Poulin, professor de Psicologia da State University of New York, em Buffalo, realizou um trabalho de investigação sobre como os valores e a cultura podem interferir, positiva ou negativamente, no processo pessoal de “mindfulness”. Ele se interessou em estudar, particularmente, a percepção individual a nosso próprio respeito. Uns estamos mais focados em nossas características pessoais (independentes) e outros, a partir do “olhar” do outro, o que opinam sobre nós (interdependentes).
Para sua pesquisa, Paulin convidou 366 estudantes universitários para a prática de “Mindfulness”. Abordou alguns temas, como comportamentos pró-sociais de ajuda ao próximo. Concluiu-se que as pessoas consideradas independentes não tinham desejo de dedicar seu tempo a ajudar, enquanto os interdependentes, após a prática, gostariam de investir mais tempo na tarefa social. Para ter certeza, Paulin conduziu outro experimento em que a resposta se confirmou: pessoas com atitudes egoístas podem se tornar ainda mais individualistas após as práticas de “Mindfulness”. Fiquei surpresa.
Ronald Puser, professor em Gerenciamento, na San Francisco State University, em seu livro “McMindfulness: How Mindfulness Became the New Capitalist Spirituality” (2019), descreveu como algumas práticas se “divorciaram” de ensinamentos budistas originais de altruísmo.
Thomas Joiner, professor de Psicologia, na Florida State University e autor de “Mindlessness: The Corruption of Mindfulness in a Culture of Narcissism”, é igualmente enfático. Ele diz que as práticas budistas foram pervertidas em um mecanismo de glorificação pessoal.
Esses e outros estudos sugerem que alguns benefícios podem ter sido superavaliados e que os defeitos da técnica, de alguma forma, podem ter sido menosprezados. Como por exemplo, apresentou o fato de que algumas pessoas podem ter experimentado aumento de quadros de ansiedade e ataques de pânico. Pasme! Portanto, exija transparência, pois ela é muito importante já que também existem inúmeras técnicas de “mindfulness” que promovem, SIM, o aumento da compaixão, altruísmo, amor próprio e tantos outros benefícios.
Tendo em vista todas as controvérsias, tudo não é absolutamente preto no branco e, em se tratando da nossa mente/corpo, que são o nosso templo pessoal, é preciso cautela.
Procure técnicas que funcionem para você, mas duvide de soluções rápidas e milagrosas. Pesquise criteriosamente a qualidade dos métodos de autoconhecimento e autocuidado, os prós e os contras, antes de escolher os mais adequados para você. E ser feliz nunca foi tão urgente!
David Robson é autor do “The Intelligence Trap: Why Smart People Make Dumb Mistakes”.
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