Aqui, na coluna, falamos que o ar principal da vida de Lenny Niemeyer é a brisa do mar. Mesmo sendo paulista (de Santos), virou um símbolo do estilo de vida carioca e é conhecida também como grande anfitriã, daquelas que sabem, como poucos, misturar o comercial com o pessoal. Em 2018, em Paris, foi a única estilista do Brasil a receber o prêmio “Designer of the Year”, importante em seu segmento.
No ano passado, veio a covid, e Lenny teve que se adaptar: criou um desfile virtual pela primeira vez, em novembro, e não só sobreviveu como também cresceu na crise. No auge da pandemia, disse à coluna: “Sou movida a desafios; agora, o coronavírus, mas não é a primeira vez que passei por momentos duros nesses anos todos. Tudo vai dar certo”. E deu.
Agora, ela comemora 30 anos da marca, com a coleção verão 2022, inspirada na África. As fotos, de Pedro Pinho, foram feitas no Lajedo de Pai Mateus, na Paraíba, que, pela primeira vez, serviu de cenário para uma campanha de moda praia. “Escolhemos o Lajedo pela sua geografia única, muito conectada ao tema da coleção. É um dos lugares mais lindos que já visitei”, diz Lenny, conhecida também por ter pronto na cabeça um manual de elegância para a praia. Aqui, alguns exemplos: “Procure um biquíni confortável e com o tamanho que você queira a marca do bronzeado, mas jamais ‘enfiar’ a lycra e tentar fazer um fio-dental; nem pensar em clarear os pelos ao sol, nem numa praia deserta; não tomar sol de perna aberta para bronzear a parte interna da coxa, igual a uma rã; um pouco de discrição nas demonstrações de carinho, digamos assim; apesar de a praia ser pública, som muito alto pode ser deselegante, a partir do momento que incomoda quem está por perto.”
Leia sua entrevista:
São 30 anos de quê?
São 30 anos da minha primeira loja. Não fosse a pandemia, seria uma grande celebração. Lembra como foi a festa dos 20 anos? (Quem não lembra? Foi em 2011, para 1.300 pessoas, uma das noites inesquecíveis ali). As coisas não se repetem, como sabemos, mas o momento não é adequado pra celebrar nada. Pretendo fazer uma releitura dos 30 anos, com uma história contada na passarela; penso para novembro. E, claro, que seja aqui no Rio, nossa cidade. Venho de uma cultura de desfile e festa, mas acabou a farra, acabou contato humano. Há de voltar logo! Se pudesse, passaria os 30 pra 2022 e a retomada social, moda e celebração, aglomerando como eu sempre gostei. Mas temos a pandemia e, em alguma escala, todo mundo sofre o seu efeito.
E com dores, né?
Recentemente perdi, pela covid, o Fábio Lemos, de 29 anos, que trabalhava comigo e era quase um filho postiço. (Lenny se emociona ao falar). Tinha acabado de ser promovido a estilista de lycra. Ele morreu em oito dias. A gente tem que respirar, seguir em frente, às vezes, com muita dor, sua ou de quem está ao lado.
Como você atravessou a pandemia, na pessoa jurídica e na pessoa física?
Para mim, o maior impacto da pandemia foi o impeditivo de tocar a empresa no dia a dia, presencialmente. Eu amo a rotina e estar próximo às pessoas com quem trabalho! Não demitimos nenhum colaborador, o que me orgulha muito. A partir daí, criamos processos internos, com testagem de equipes e rodízio de trabalho para as áreas que são essencialmente presenciais, como produção e logística. Não paramos de produzir nesse período. A aceleração digital, tanto na relação de trabalho interna quanto na evolução do nosso e-commerce, foi crucial para nossa retomada. Na parte social, o distanciamento dos amigos e de parte da família foi o que mais senti.
Quando você começou imaginava esse roteiro?
Quando comecei, não imaginava que pudesse chegar ao que somos hoje. Vi uma oportunidade de desenvolver uma linha de beachwear inspirada no lifestyle carioca, porém com uma modelagem mais comportada e sofisticada, que pudesse ser usada também no pós-praia e em diversas ocasiões.
Sempre com o Rio na cabeça? Como vê o Rio de antes e o atual?
Sou uma grande entusiasta da cidade, amo o Rio e acredito que daremos a volta por cima. Faço parte de um conselho com a Prefeitura e diversos empresários que discutem pautas de melhorias, não só sociais como também turísticas, de como podemos tornar a cidade novamente o cartão-postal do Brasil.
A pandemia mudou o mapa das lojas?
Mudou: hoje são 22 no Brasil inteiro. Recentemente inaugurei duas: uma em Belo Horizonte, outra em Goiânia. Meu e-commerce cresceu 30% da pandemia pra cá; o atacado continua bombando. Não tenho sócios, sou gestora e diretora criativa ao mesmo tempo e gosto de trabalhar. Tenho o suporte do meu marido, Lulu (Lima e Silva), que é muito pragmático, com tecnologia e e-commerce. Fico mais com a parte criativa.
Quatro anos depois, o que o aneurisma lhe ensinou e deixou em você?
Me ensinou muito: perdi medos bobos, como de avião, por exemplo, e adquiri mais autoconfiança. Na verdade, minha visão da vida mudou. O aneurisma me deu mais gás, mais força pra trabalhar. Vou indo, junto com meu barco…
Então, jamais passa pela sua cabeça parar…
Aposentadoria, absolutamente, não passa pela minha cabeça! Amo trabalhar, amo o convívio com as pessoas com quem trabalho diariamente e amo criar.
Quais os próximos passos e como se vê daqui a alguns anos?
Para os próximos anos, quero continuar trabalhando e acompanhando as mudanças na marca, de forma bastante consciente. Tenho o desejo de desenvolver linhas cada dez mais sustentáveis e responsáveis. Além disso, pretendo abrir lojas em pontos estratégicos do Brasil, consolidando a marca no mercado exterior, e continuar a aceleração digital. Vejo-me produzindo e criando por muito mais tempo!
Foto: Bruno Ryfer