Não se pode precisar qual foi o fato que marcou o nascimento da sociedade patriarcal. A predominância do masculino, ou seja, a marca da mulher como um objeto secundário, ainda se reproduz em todas as sociedades, em todas as classes, nas religiões e nas raças. Em “Nome da Mãe” aborda a jornada íntima de uma mulher jovem, pobre, não casada — e grávida, tendo por isso sofrido os preconceitos de uma sociedade conservadora, patriarcal e machista. Essa mulher é Maria, mãe de Cristo.
Baseada na obra homônima do premiado autor italiano Erri de Luca, a peça foi concebida e adaptada para o palco, por Suzana Nascimento, que também estrela o monólogo, em sua primeira montagem no Brasil, com direção de Miwa Yanagizawa. Utilizando a corrente linguagem híbrida e encenações filmadas, a trajetória, os embates são envoltos em um projeto de luz, ressaltando a contradição entre a fragilidade da situação e a força da personagem.
“Só existem seis falas atribuídas a Maria em toda a Bíblia; pouco se escreveu sobre ela. A peça é uma investigação sobre sua jornada íntima, trazendo uma Maria profundamente humana, em plena metamorfose, apoderando-se de sua própria história”, conta Suzana. A escolha do monólogo, ressaltada pelos “truques” para mostrar os diálogos entre Maria e sua mãe – o uso do telefone –, é acertada para evidenciar o isolamento e como a voz foi banida.
A atuação de Suzana não apela nem para o desespero, nem para revolta. A composição da mulher, que se move de forma delicada, mostra que o espaço é de luta, de imposição. A criação de espaços para a voz de três mulheres – a donzela Maria (ou Miriam, como é chamada em hebraico), a atriz (uma mulher de 43 anos) e a anciã (que carrega em si a ancestralidade feminina) – só nos mostra que é hora de fazer nascer essa mulher que emerge do texto.
Fotos: Elisa Mendes
Serviço:
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Sexta a domingo, às 19h