A notícia de que seria aceita na UAL (University of the Arts London), para estudar moda, chegou praticamente junto com a pandemia, ou seja, sonho adiado. Em vez de ficar chorando de frustração, Luíza Figueira de Mello, 18 anos, mudou de planos. Sabendo do tamanho de seu amor pela moda, resolveu virar estilista autodidata, digamos assim. Tudo surgiu no auge do confinamento, quando ela partiu com a família para a casa no Vale das Videiras, em Araras. Aprendeu o que sabe com a consultora Fernanda Mansur: do corte à modelagem. Lançou a coleção recentemente; desde então, é difícil saber quem não tem, no armário, pelo menos uma peça da sua marca. Um mês depois, as vendas explodiram no boca a boca.
“Ficamos trancados no meio do mato. Cheguei à conclusão de que o mundo não voltaria ao normal tão cedo; então, perdemos a inscrição de Londres. Primeiro, vamos deixar esse vírus sumir. Nesse meio tempo, ela manifestou a vontade de ter uma marca de roupas. Pensei: por que não fazer o caminho inverso? Lançar a marca e depois estudar?”, conta o designer Erick Figueira de Mello, seu pai e investidor.
Qual foi a sensação da troca de planos com a chegada da pandemia?
Tive a oferta de estudar na UAL, mas, um mês depois, veio a pandemia. Partimos para Araras, onde ficamos por quatro meses, totalmente isolados. A minha formatura do Ensino Médio, por exemplo, foi uma gravação em vídeo — eu sentada na sala, com roupa de formatura, aos prantos, porque não teve evento com os amigos. Estava perdida, porque eu gosto muito de programar tudo. Sou ansiosa e, de repente, a vida mudou.
Como veio a ideia da marca?
Sempre gostei de moda, desde pequena: invadia o armário da minha mãe, avó, tias, fazia desfiles pela casa… A princípio, fui incentivada por meus pais (Anne e Erick) porque eu estava inquieta. E veio a ideia da marca. Achei que fosse tudo muito fácil; mal sabia o que viria pela frente. Eu comecei a entender que fazer uma estampa valoriza tudo. Um belo dia, olhando o jardim, fiquei fascinada por uma palmeira, passei a observar como o sol batia, e a ideia da estampa surgiu.
Acredita que, se não fosse a pandemia, isso não teria acontecido tão cedo?
O ano de 2020 pode ter sido o que for, mas foi importante pra mim, para o meu crescimento. Em tempos tão difíceis, eu me vi agradecendo à pandemia. Obviamente, teve todo um outro lado, mas, pessoalmente, foi muito importante.
E como é, do nada, entender de todos os processos de fabricação?
Não fazia ideia, até conhecer a Fernanda Mansur, minha consultora, que me ensinou tudo, desde a criação de uma grade de peças até o processo de corte, costura, produção, modelagem… Eu não fazia ideia. Aprendi muito nesse último ano, mais do que se tivesse na faculdade de moda. Criei uma coleção de várias cores com dois tecidos diferentes, como a seda biodegradável e o misto de linho de fibra natural, porque eu tenho essa paixão pela natureza; então não tem como lançar uma marca de roupas sem pensar no que vai impactar.
E a preferência pelo clássico?
A princípio, até me achei meio careta pra minha idade, porque eu gosto de tudo solto. Mas são roupas atemporais e clássicas. Sempre fui a diferente da turma nesse sentido — minhas amigas sempre diziam que eu estava muito arrumada e chique. Não entendia, mas depois comecei a perceber e me identificar com peças clássicas. Tendência é diferente de estilo. Eu posso ter peças que são tendência e encaixá-las no meu estilo, não o contrário.
E esse sucesso logo de cara!
Faz um mês do lançamento, e tenho vendido no Rio e São Paulo. Mas, assim que lançou, fiquei enlouquecida com as vendas, porque faço tudo, desde a criação à produção, até as sacolas de papelão recicláveis com alças de restos de tecido, a cartinha que acompanha e o cheirinho das roupas. Fui eu que fotografei a coleção; uma das modelos foi uma amiga da minha mãe (Roberta Palhares); a outra é uma amiga que está começando na carreira de modelo, e assim vai. É no boca a boca que está acontecendo; ainda não atingi a galera da minha idade, mas é um dos focos.