Sobre o livro autobiográfico que a artista Camilla Amado, que morreu nesse domingo (06/06), deixou nas mãos do editor José Mário Pereira, da Topbooks: há tempos, Camilla considerava esse livro pronto, mas sempre adiava a publicação, apesar de esse ser seu grande desejo, principalmente pelas histórias ali contidas com pessoas, principalmente artistas, em sua maioria, ainda vivas. Contudo, vai muito além disso – todo mundo sabe de sua grandiosa cultura e sabedoria.
Por suposição, aqui está a reprodução de um trecho que ela adorava contar e, certamente, deve constar: “Quando os militares invadiram a TVE, Gílson Amado, meu pai, ignorou sua numerosa presença, liderada por um coronel. Minha mãe (Henriette Amado) já tinha sido presa, desaparecida e torturada por três meses. Os militares pisando forte nos corredores, e todos continuando seu trabalho como se não estivessem ali. Um dia, meu pai falou no jantar: ‘Não suporto mais esses militares na TVE, atrapalhando o trabalho. Tenho que dar um jeito nisso’. No dia seguinte, chamou funcionários e pediu que descobrissem a data do aniversário do coronel. Depois pediu a todos que marcassem uma reunião num determinado estúdio. Tudo em voz baixa, para que os militares ficassem curiosos. No dia da reunião, a TVE em peso no estúdio, os militares animados pela reação que afinal tinham provocado, dirigiram-se pra lá. Ao entrar, depararam com o salão cheio e um bolo enorme com muitas velas e todos cantando ‘Parabéns’. Apanhado de surpresa, no dia do seu aniversário, apagou as velinhas! No dia seguinte, era cumprimentado por câmeras, secretárias e todo mundo com os mais efusivos: ‘Comi teu bolo!’ Vinte dias depois, os militares deixaram a TVE, mas infernizaram a vida do meu pai até ele morrer engasgado (por eles) num restaurante. Mas a TVE continuou seu trabalho até a TV Brasil acabar com ela.”