Depois da repercussão do depoimento da empresária Juliana Borges à coluna, no último sábado (22/05), no qual ela meio que traçou um painel da ioga, principalmente que, se os alunos não voltarem, os estúdios não terão como resistir, ouvimos outros três nomes:
Roberta de Amorim, do Hot Yoga, na Barata Ribeiro, em Copacabana: “Nós colocamos o coração e a alma no negócio. Estamos todos tentando sobreviver na esperança de que as coisas melhorem, mas não sabemos até quando vamos conseguir. Sem o retorno dos alunos, sinto que estou falhando na minha missão. A intimidade e a reverência que ocorrem em um estúdio são essenciais: é uma outra expressão de templo. A razão pela qual ensinamos ioga é a alquimia de ter corpos juntos respirando e movendo-se em um espaço comum e único, vendo as pessoas, conectando-se e compartilhando essa experiência. A sinergia que existe entre professores e alunos é insubstituível online. Tem sido muito triste ver espaços físicos de ioga fechando permanentemente. O desaparecimento de estúdios físicos significa menos lugares para “satsang”, um termo em sânscrito que significa espaços sagrados de reunião.”
Leandro Castello, do Saraswati Studio de Yoga, na Ataulfo de Paiva, no Leblon: “Nem sabemos quantos estúdios existem abertos no Rio, mas muita gente fechou, dos mais antigos aos mais novos. Criamos um grupo de WhatsApp com os que ainda estão abertos, e todo mundo está igual. Eu reabri em julho do ano passado e, desde então, não tenho um mês no positivo. Trabalhava com uma média de 125 a 130 alunos por mês e, apesar de ser um dos mais antigos do Rio, aberto há mais de 25 anos, hoje temos mais ou menos 40 fixos. Só estamos abertos na base da força de vontade, bancando o prejuízo por causa de outras atividades, como turmas online e atividades paralelas com ioga. Se o calendário da vacinação se concretizar até o fim do ano, podemos caminhar para quase uma normalização. Essa migração para o online foi uma bomba atômica nos estúdios, e muitos não vão se recuperar – sem falar os já fechados. Aqui a gente optou por não fazer aula online, justamente por isso, porque não acha uma coisa boa para ninguém dos envolvidos porque cria um problema conceitual: por que dar aulas online se tem um espaço físico? Do Leblon até Copacabana, tinham uns 30 estúdios; agora, se tiver quatro, é muito”.
Deborah Lewkowicz, do Gestos, na Conde Afonso Celso, no Jardim Botânico: Estamos conseguindo resistir exclusivamente por causa do apoio das pessoas. Então, quem está realmente buscando a ioga é porque entende essa qualidade do seu encontro com seu tapete, sua prática sem delegar tanto para o outro uma coisa que é para si. Acho que a prática dentro de casa, só com a telinha (computador, celular, tablet), colocou as pessoas diante dessa característica pessoal de cada um. Faço por mim e não por quem está pagando uma mensalidade, ou tem a obrigação de ir a um estúdio duas vezes por semana porque nos condicionamos a uma rotina. Entendo que quem esteve com a gente durante todo esse tempo foram heróis da resistência. Tanto professores que se mantiveram no Gestos — eles poderiam ter seguido carreira solo, como muitos têm feito — e entenderam que se não estivessem com a gente até isso passar, provavelmente não voltaríamos. Essa tem sido a nossa natureza durante a pandemia. Estou tentando vibrar numa potência positiva para que as coisas aconteçam. A empresa já entrou na CTI umas três vezes, ficamos sem oxigênio, fomos intubados, mas as coisas foram acontecendo e nos mantendo”.