Como muitos rostos que se ausentam das telinhas, as pessoas se perguntam: por onde anda Geovanna Tominaga? A atriz, repórter e apresentadora de TV, que trabalhou com Angélica, fez novelas, apresentou o TV Globinho e foi repórter do “Mais Você”, há três anos, tem uma nova carreira, a de celebrante de casamentos. Se você está noiva, com certeza, planejou a contratação de alguém para conduzir a cerimônia. Dependendo da religião, pode ser pastor, padre, rabino, juiz de paz. No entanto, muita gente tem fugido da formalidade e procurado algo mais afetivo, que tenha a ver com a história até aquele “sim” no altar.
Segundo Tominaga, não foi uma mudança de profissão, mas de ambiente, já que o trabalho é praticamente investigativo, só que sobre o amor. Ela fica em contato com os noivos por quatro meses, fazendo entrevistas e conversando com os amigos e parentes, até conhecer a história e desenvolver o roteiro, com poesia, citações, casos e muita criatividade.
Tudo começou com os preparativos para seu próprio casamento com o advogado Eduardo Duarte, em 2018, quando passou a observar os detalhes de outros casamentos. Foi então que percebeu a oportunidade, já que os celebrantes falavam muitas besteiras ou eram prolixos. No mesmo ano, fundou a Celebrando Amor, empresa de criação de conteúdo customizado. Sem muito alarde, o negócio foi crescendo e, em 2019, tinham dois casamentos por mês. No ano seguinte, o número dobrou, mas veio a pandemia, e 100% deles foram adiados para o segundo semestre deste ano e todo 2022. Além disso, ela criou cursos de mentoria em celebração.
Como tudo começou?
Não foi nada planejado; oficialmente, comecei em 2017. Sempre gostei de poesia, e meu trabalho na TV envolvia pesquisa, entrevistas, redação, apresentação, enfim, faço isso desde muito pequena. Quando adolescente, costumava ajudar as minhas amigas a escrever cartinhas para os namorados. Um ano antes, uma amiga me pediu que celebrasse o casamento dela porque era só uma comemoração na praia. A princípio, achei uma coisa meio estranha porque, na minha cabeça católica, isso era coisa para padre. Ela acabou adiando, e aí veio o meu casamento. Comecei a prestar mais atenção nos detalhes — sou aquela que chora, fica emocionada. Eu via muitas besteiras durante a cerimônia. Pensava: ‘Não quero isso pra mim…’ Foi no casamento de outra amiga, feito por uma celebrante que achei poética, bem particular. Descobri ali que ela fazia aquilo profissionalmente. Comecei para pessoas do meu círculo de amizades. Foi quando desconhecidos começaram a me procurar, que o negócio ficou sério.
É uma nova profissão?
Com toda minha bagagem do jornalismo, tudo que eu já vinha fazendo na minha vida, poderia, sim, fazer todo esse processo pensando profissionalmente. Tem tudo a ver com o que eu já fazia, só que em vez de falar sobre esporte, moda, culinária, etc., eu falo sobre amor. E eu faço com paixão, com prazer. Pra quem já subiu em favela para cobrir matéria de mulher de traficante, falar sobre amor me dá uma energia incrível. Na verdade, eu faço esse trabalho em paralelo com outras atividades. É uma profissão que vem aí para ganhar espaço mesmo. Vai crescer muito; só pela procura pelos meus cursos, eu percebo isso. Daí me perguntam: mas para que fazer um curso de celebrante no meio da pandemia, já que não tem trabalho? Mas quando tiver, ninguém mais vai ter agenda, e o que mais vão procurar serão os celebrantes. Então, agora é hora de investir em informação e se preparar mesmo.
Ter essa experiência da TV ajudou? E teve receio por ser um rosto conhecido?
Mais ou menos porque ali não é um palco, não é um show seu — quem tem que brilhar são os noivos. Então, às vezes, se você se empolga, faz improviso, sai um pouco fora da proposta; era isso que eu via acontecer algumas vezes. Tive receio; até por isso, cheguei de mansinho ao mercado. Pensei que as pessoas podiam confundir as coisas, como, por exemplo, a noiva achar que, sendo eu uma pessoa conhecida, chamaria mais atenção do que ela. No entanto, nunca ninguém comentou nada comigo, mesmo porque eu crio uma relação de amizade com o casal.
E fica amiga mesmo?
Temos que saber muito da vida deles, em detalhes, para que você possa improvisar. Como é tudo personalizado, eu os acompanho por quatro meses — com um encontro com os dois, um com a noiva, outro com o noivo, além de conversar com as pessoas indicadas por eles. Hoje, só estamos online, resolvendo muito pelo WhatsApp. Quando chega o dia do casamento, é muito comum os convidados, no final, virem me perguntar se eu sou amiga. Certa vez, um noivo começou a chorar e, como jornalista, fui treinada a não demonstrar emoção, mas, ao mesmo tempo, não sabia se abraçava ou não. É tudo muito intenso.
O que as pessoas mais pedem? Teve algum caso inusitado?
Geralmente, para criar um ritual a partir de uma passagem bíblica, escrever orações, bênçãos e homenagens a pessoas que não estão mais presentes, como vai ser agora no pós-pandemia. Uma noiva, que era minha fã, me pediu que começasse a cerimônia, dando boa tarde em japonês, que era como eu começava a TV Globinho. Também já fiz trechos em italiano, holandês, russo e inglês, que é comum. Teve um, em Búzios, que seria no mesmo dia de uma final de campeonato, e era jogo do Flamengo. Por isso, a cerimonialista me pediu que terminasse mais cedo, por causa dos fogos e trânsito.
Muitos casamentos gays?
Minha primeira, digamos, cerimônia oficial foi de um casal de meninos muito queridos, e o primeiro deste ano foi de duas meninas. Tem muita procura.
O que é mais difícil para você?
Controlar a minha emoção. A noiva aparece, eu choro, daí tenho que controlar porque, logo em seguida, eu falo. Fico meditando para não pagar mico, mas acontece direto.
A empresa parou com a pandemia?
Quase 100% dos casamentos foram adiados e dois cancelados por causa de morte por covid na família. Numa delas, foi bem trágico, com muita gente da mesma família morrendo.
Como vai ser a volta do mercado de casamentos?
Minha agenda está lotada para o segundo semestre deste ano e em 2022. Os pedidos de orçamento já estão bombando agora. Acho que as pessoas estão mais otimistas por causa da vacina e vão investir nisso porque muita gente quer fazer festa, com pista de dança, com abraço.
E o curso?
É uma mentoria para formação de celebrantes que eu já tinha vontade de fazer porque me pediam muito no Brasil todo, e eu não tinha como atender por causa da agenda cheia e filho recém-nascido (Gabriel, hoje com 2 anos). Então veio a pandemia e foi quando eu parei para produzir, fazer conteúdo, gravação, edição e textos, tudo sozinha em casa. Aí eu lancei a primeira turma no segundo semestre do ano passado; a segunda foi de janeiro a março. Agora estamos com um formato online, em que as pessoas assistem aos conteúdos, e temos encontros virtuais ao vivo.