Há nove anos, comecei a praticar ioga. Em quatro meses, aquilo transformou a minha vida, mas soube que o estúdio onde eu praticava fecharia. Ali, resolvi comprá-lo para que eu pudesse beneficiar as pessoas como fui beneficiada. A partir daquele momento, passei a viver, respirar e a amar a ioga. Ao longo desse caminho, vi que ela fez parte da vida de muita gente, como sendo um pilar de importância dentro do equilíbrio – em que as pessoas aprenderam a silenciar e se ouvir, e principalmente hoje, neste período de pandemia, em que está todo mundo desconcertado, inseguro e cheio de medos, ela traz uma paz interna, o seu eu de volta.
Acredito que, se as pessoas tivessem conhecimento do quanto é importante a prática consistente e com frequência da ioga, isso seria capaz de transformá-las: a ferramenta está ali, pega quem quer. E não é usar a ioga só como um mecanismo físico, mas com toda a sua ação psicofísica, que age como um todo. As aulas são um estado de meditação em movimento, no qual você consegue encontrar o silêncio interno, a resposta para muitas questões, o equilíbrio, a respiração. Aprender com ela, você baixa a ansiedade, domina o corpo e pensamento, acalma e silencia a mente. Os benefícios da ioga são comprovados e não têm controvérsias. Que esse veículo continue existindo e que as pessoas entendam o benefício de uma prática, seja ela física, seja espiritual, neste momento em que precisamos de fé, reconexão, positividade!
Estou muito emotiva porque eu dei a vida ali dentro no Yoga One, sempre trabalhando por amor. Tudo ali tem minha mão: a tinta da parede, o prego da samambaia; não tenho decorador nem arquiteto. São quase 10 anos de amor, entre a Barra e a Gávea. O meu combustível era as pessoas dizerem que suas vidas foram tocadas pelas aulas. Era uma sensação de dever cumprido e, de repente, me vejo no meio disso tudo, chacoalhada igual a uma boneca de pano, batendo a cabeça de um lado para o outro.
As pessoas sabem que existiu uma mudança de hábito, com muitas adaptadas ao Zoom, às lives. Mas será que elas param para pensar que, se os estúdios físicos não tiverem mais apoio, eles não vão mais existir? Conversei com estúdios do Brasil inteiro: todos estão passando por dificuldades, porque temos contas fixas com funcionários, aluguel, impostos. As pessoas falam em ajudar bares, restaurantes, lugares de maiores dimensões, mas em nós, que somos um setor pequeno, ninguém fala.
Quando uma loja vai fechar, todo mundo fica consternado; a livraria vai fechar, a mesma coisa. E ninguém vai lá? A atitude é de cada um. Faz sua parte. Acolher a quem tanto acolheu. E olha que sou grande, fisicamente falando. O que não consigo entender é que ninguém está cem por cento em casa: as pessoas vão ao médico, estão saindo, retomando a vida com cuidado etc., mas nossos espaços de ioga estão morrendo nesta pandemia. Minhas energias foram drenadas por um ano e três meses, e fechei o espaço por seis meses. Não tenho mais saúde nem fôlego para tentar fazer com que as pessoas entendam que vamos fechar as portas se elas não voltarem. Não está tendo acolhimento — falo isso por mim e por outros estúdios.
Um grupo de 15 alunos da Barra até tentou ajudar, mas eu precisava de 60! Foi uma atitude de amor muito bela que me deu um gás para continuar. Todos estamos passando por dificuldades, vendo nossos sonhos destruídos, nossos espaços fechando num curto espaço de tempo, porque está demorando demais pra passar. Só sei que meu coração está despedaçado. Nessa área, todos estão vivendo a mesma dor que eu.
Juliana Borges é publicitária e empresária. Há nove anos, apaixonou-se pela ioga; desde então, vem dedicando a sua vida ao assunto.