Sempre busquei estar ligada a ações sociais e sempre tive vontade de colaborar de alguma forma. Em 2006/2007, tive a oportunidade de me tornar madrinha do Incavoluntário. Chamo de oportunidade porque é um enorme aprendizado e me deixa muito feliz. As visitas às crianças com câncer sempre encheram meu coração de gratidão. No entanto, com a chegada da pandemia, não só as visitas como também muitas ajudas que existiam bem antes de isso tudo começar estavam suspensas.
Foi muito difícil assimilar tudo isso no primeiro momento.
Claro que não eram só as crianças com câncer que estavam nos meus pensamentos. Desta vez, era um desconhecido que assombrava, não só aquele determinado número de pessoas, mas também o mundo todo. Tive medo. Muito medo e, algumas vezes, pânico. A cada notícia, um medo novo.
Medo pela minha família, medo pela minha mãe, medo de não dar conta, de não dar o exemplo de equilíbrio às minhas filhas. Muitas mudanças, muitas adaptações. Medo pelo mundo. Medo pelas crianças do Inca e todas as outras pessoas em situações tão difíceis.
Com o passar dos dias, porém, o medo foi aos poucos sendo substituído pela fé, essa fé que nunca deixa de me acompanhar e sempre me dá a força de que preciso. Sabe mãe? Mãe parece que sobe numa cadeira no momento em que o furacão está para chegar e enxerga tudo de cima sem parecer se abalar. E acho que foi assim que eu fiz: subi numa cadeira e enxerguei o que eu poderia fazer com esse turbilhão de sentimentos.
Sou privilegiada, tenho muito mais que muita gente; consequentemente, tenho mais obrigações também. O momento em que muitos começaram a perder seus empregos, foi um daqueles em que mais trabalhei. E isso é muito contraditório. Como influenciadora digital, muitas marcas precisaram do nosso trabalho para continuar. Muitas tiveram que se reinventar, assim como muitos outros no mundo. E eu, que tinha dado uma pausa na minha carreira profissional, para ser mãe, me vi voltando sete aos depois, com muito trabalho, num momento superdifícil e diferente de tudo. O desafio dentro de mim também era imenso.
Eu me questionei, diversas vezes, como vender um produto pela Internet, num momento em que o mundo está abalado, sem parecer não ter empatia com tudo que estamos vivendo.
E foi aí que subi na cadeira mais uma vez e analisei o que eu estava fazendo. É minha fé que me direciona e me faz enxergar tudo com clareza. Acredito muito que as pessoas certas sempre estão em nossas vidas nos elucidando quando estamos precisando.
Participei de uma live com a Alice Ferraz (jornalista de moda, sempre aos domingos, no jornal O Estado de São Paulo) em março deste ano e batemos um papo sobre isso também. Um dos assuntos foi sobre quantas pessoas têm por trás de uma marca e quantos empregos essa marca gera. Quando uma influenciadora faz o seu papel na Internet, ela está contribuindo para que essas pessoas não percam os seus empregos e ajudando a marca a se manter neste momento tão difícil.
E assim segui até aqui. Sempre penso no bem maior e na forma como quero que minhas filhas me vejam e sigam os meus passos. Graças a esse meu trabalho, tenho conseguido parcerias lindas com marcas que revertem parte da venda para ajudar o projeto do Incavoluntário, que sofreu uma queda significativa de arrecadação desde que a pandemia começou. Mas, com ajuda de muitos, inclusive os anônimos, esse quadro não ficou tão desesperador.
Às vezes, paro e penso se faço o suficiente e se estar contando isso aqui ajuda em alguma coisa. Sei que posso fazer mais e acredito que quem pode se fazer ouvir é seguido por outros; assim, a corrente do bem se forma. O que aprendi com a pandemia? Que desafios sempre virão, talvez mais brandos ou mais difíceis, mas eu sempre terei a minha fé para me guiar, pessoas para me ajudar e uma cadeira para que eu possa subir.
A carioca Daniella Sarahyba começou a carreira de modelo aos 13 anos e voltou a atuar a toda na profissão, durante a pandemia. Casada com o empresário Wolff Klabin desde 2007, tem duas filhas: Gabriela, de 10 anos, e Rafaella, de 7. Dani é madrinha do Incavoluntário, com trabalho elogiado, ajudando a levantar doações que auxiliam algumas famílias a recompor a vida.
Foto: Carolina Gaviorno