Antes do mundo dos e-mails, WhatsApps, mensagens, as pessoas se falavam por carta — esperar o carteiro, o coração batendo, mãos suando… Havia ansiedade, emoção e depois a alegria estonteante das notícias, das letras, da pessoa se fazendo presente, um carinho sem fim. Existia também “l’amie de plume”: pessoas que não se conheciam, mas que trocavam farta correspondência, desenvolviam relacionamentos, criavam vínculos. São as cartas entre Carlos Drummond de Andrade e a poeta Zuleika Castro Moreira que formam o monólogo “Cartas a uma Jovem Poeta”.
Roberto Frota, filho de Zuleika, tocado pelas recentes transformações no mundo, idealizou a montagem de “Cartas a uma Jovem Poeta”. A encenação conta com a participação de Denise Weinberg e a direção de Marcos França, que assina também o roteiro, cuja dramaturgia costura cartas do poeta a textos de Zuleika, estes, interpretados por Weinberg.
Em um ambiente íntimo, sala/escritório, que é aquele canto da casa onde as pessoas se refugiam, isolam-se para trocar ideias consigo mesmas, refletir, dialogar com os próprios sentimentos. A interpretação doce e emocionada de Roberto vai se compondo pelas cartas que tem em mãos, mas as diz de cor. E conforme vão sendo lidas, compõem um varal de poesias, um colar de lindezas.
A apresentação acontece ao vivo, com Roberto só e sendo registrado pelo telefone. Não há microfone, só a captação de som pelo aparelho, mas a voz de Roberto soa firme, presente, íntima. O ator reproduz o poeta e, de forma invertida, Drummond, ali presente, fala do seu amor pela filha Julieta, de seus sentimentos fortes pela ausência de sua menina, que se casa e se muda para Buenos Aires. A peça fala de fortes ausências, dos maiores amores filho/mãe e pai/filha. Esse amor nos inunda nos tempos de muitas ausências.
Serviço:
Dias e horários: sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 18h
Sessão em Libras nos dias 5 e 12 de abril, segundas-feiras, às 21h
Local: Sympla