A minha reação para a angústia gerada neste ano tão estranho foi de arrumar mais coisas para fazer. A isso eu agradeço essa terrível pandemia. Fui atrás de conhecimento. Iniciei, por zoom, claro, um novo curso de francês, um de literatura inglesa, outro de artes que era eventual e passou a ser bem mais frequente e sobretudo procurei mais trabalho para preencher todo o meu novo tempo. Acho que foi a maneira que achei para me anestesiar de tantas notícias tristes e perturbadoras à minha volta.
Então, expandi com minha sócia Ana Cecília no Cooking Buffet o nosso delivery Cooking to Go e estamos, além de tudo, responsáveis pelos três espaços gastronômicos da CasaCor (na Lopes Quintas). Permanecemos sempre bastante ocupados apesar da escassez dos eventos, que sempre foram nosso foco principal.
Eu me emocionei muitas vezes quando os colaboradores extras vinham me agradecer por lhes dar trabalho toda vez que podíamos chamar mais gente para nos ajudar. Isso foi me acalmando um pouco. Estávamos pelo menos gerando renda para quem não tinha nenhuma naquele momento.
E, neste embalo produtivo, criei uma nova marca de roupas de dormir e ficar em casa com uma velha e querida amiga, a designer Alessandra Brito. Assim nasceu a Strela, ou @shopstrela para quem nos busca no Instagram. Vendemos apenas online e temos o propósito de movimentar a economia circular, gerando mais empregos para toda uma cadeia produtiva com relações de trabalho mais justas e diretas. Foi quando comecei a aprender de verdade o que é ser sustentável e como isso deve acontecer de forma social e econômica, além da ambiental mais conhecida. Minha nova sócia me ensinou o que são ciclos renováveis de produção e por que eles são tão importantes.
Comecei a refletir sobre o impacto de cada peça; a roupa de dormir é a que nos acompanha por mais tempo. Nada de fast fashion — queremos slow fashion. Buscamos tecidos, botões, rendas e materiais que não poluam mais nosso planeta. Acredito hoje, bem mais do que antes, que todo trabalho tem que ser consciente. Passei a prestar verdadeira atenção a um novo vocabulário: reflorestamento, energia renovável, fornecedor local, reciclagem, aproveitamento, processos sustentáveis…
Graças a essa pausa obrigatória, a essa mudança de tantos hábitos e ao novo ritmo de vida, consegui ganhar mais aprendizado. Conhecimento traz esperança, acende uma luz; ele desperta a vontade de aprender muito mais. Foi o que encheu o meu vazio causado pelas frustrações da pandemia, pela perda da normalidade e do controle de todas as coisas. Eu quero buscar mais luz.
Adriana Mattar é chef, dona do Cooking Buffet, com Ana Cecília Gross e, desde o ano passado, empresária de moda: fundou a Strela, marca de pijamas, com a amiga Alessandra Brito.
Foto: Nana Moraes