A atriz e diretora Ana Kfouri consolidou, ao longo de mais de 40 anos de carreira, uma pesquisa cênica em que o corpo e a palavra estão sempre em relação. Prova disso é “Uma frase para minha mãe”, criado a partir do livro homônimo do poeta Christian Prigent, traduzido por Marcelo Jacques de Moraes. Para esse desafio, a artista permitiu-se, pela primeira vez, dirigir a si própria, tendo a colaboração de Márcio Abreu.
O bretão Christian Prigent é escritor, poeta, ensaísta e tradutor francês, um dos mais importantes de sua geração, assim como Ana Kfouri, que se dedica, há anos, à missão de dirigir, encenar e atuar no teatro. O autor vai além de esboçar um retrato — fidedigno ou fictício — de uma figura materna. A narrativa tem toques proustianos ao refletir sobre a passagem da vida à literatura e sobre o nascimento de um escritor, além de mobilizar sensações afetivas e corporais ligadas à figura e à língua materna, envolvendo afeto, filosofia, pensamento, visão de mundo, política e pesquisa de linguagem.
O texto tem forte carga poética e, por isso, é rico em aliterações (“ratoeira de matéria erotífera”), imagens impactantes (“mãe é o mundo com direito de garfo sobre meu prato”) e trechos que se repetem com modificações sutis. Ana Kfouri sabe o risco que corre — e talvez esteja, nesse saber, uma das (muitas) molas propulsoras do seu fazer artístico. A peça é uma rosa no asfalto em tempos difíceis.
Serviço:
Sábado, às 20h, no canal do Centro de Estudos Ana Kfouri (CEAK), no YouTube.