Como falamos aqui, o que seria do Rio sem os arquitetos e o que seria dos arquitetos sem a CasaCor? E chegou o dia! Neste domingo (28/02), acontece a abertura dessa grande mostra de arquitetura, decoração, design e paisagismo, adiada por três vezes, em razão da pandemia.
Em novembro, houve o primeiro encontro para início dos trabalhos da comemoração de 30 anos do evento. A edição vai ser presencial e digital, no casarão onde viveram Odaléa e Jorge Brando Barbosa, alugado para a ocasião, no Jardim Botânico, num terreno de 12 mil metros quadrados com espécies da Mata Atlântica; 57 profissionais trabalharam em 38 espaços.
Pode-se dizer que as sócias Patricia Mayer e Patricia Quentel estão comemorando “bodas de pérola”, o que não deixa de ser um casamento, sem os prazeres, mas também sem os problemas sexuais. As xarás conheceram-se quando estudavam na PUC. Os temperamentos são diferentes, mas complementares: Mayer, jornalista, é tranquila, conciliadora e comunicativa, enquanto Quentel, designer, é expansiva, enfática e prática.
Desde 1991, elas atuam na produção e comercialização do evento, administrando centenas de profissionais envolvidos – até hoje, foram criados 1.305 ambientes decorados que atraíram mais de um milhão de visitantes nessas três décadas.
Para esta edição, o foco é na adaptação da vida na pandemia, com espaços multifuncionais e muita natureza. As visitas presenciais são agendadas, com limite de 200 pessoas dentro da casa, por até duas horas, mas, nos jardins, pode-se circular.
Entre os nomes, muitos estão desde o início, como Anna Luiza Rothier, Bel Lobo, Caco Borges, Chicô Gouvêa, Cynthia Pedrosa, Gisele Taranto, Lia Siqueira, Luiz Fernando Grabowsky, Maurício Nóbrega e Paola Ribeiro.
Aqui, a conversa com as Patrícias, mais da Mayer, que responde pelas duas.
Ainda estamos num momento delicado da pandemia. Existe uma insegurança da parte de vocês?
É difícil se sentir 100% seguro, mas estamos tomando todas as precauções. Além de estarmos fazendo a mostra híbrida, presencial e virtual, seguimos todas as regras da covid — a compra de ingressos é online, com agendamento de horário para visitas, aferição de temperatura à entrada, totens de álcool em gel em locais estratégicos e equipe de ‘fiscais do distanciamento’. O fato de estarmos numa casa com boa ventilação, além do jardim de 12 mil e 500 m2, ajuda nesse processo.
Financeiramente, a feira deste ano se equivale aos outros, ou teve uma redução nos investimentos?
Houve uma redução de investimentos, sim. Apesar do mercado de decoração aquecido, o ano de 2020 foi muito complicado para todos, gerou insegurança, inclusive para a indústria, com a falta de peças etc. Sendo assim, tivemos um reflexo imediato no comercial e no orçamento, o que atiçou, ainda mais, a criatividade dos profissionais.
Quais as vantagens em manter o evento, mesmo sendo adiado por várias vezes. É hora de ir retomando a vida?
Desde que a casa Brando Barbosa surgiu como opção para ser o local dos 30 anos do evento, em fevereiro de 2020, antes da pandemia, tivemos a certeza de que, em algum momento, a edição teria que acontecer, e não podíamos deixar de fazer neste local. O que nos animou foi quando os museus e casas de cultura abriram no Rio, nos dando a certeza de que a CasaCor poderia funcionar no mesmo modelo. O sinal verde da diretoria do Instituto Brando Barbosa, garantindo que aguardariam a data mais conveniente, nos fez seguir. Foram 54 arquitetos, paisagistas e designers de interiores que aceitaram entrar conosco nessa empreitada, além dos patrocinadores e fornecedores. Retomar a vida com todos os cuidados é possível, sim, claro.
Com a pandemia, as pessoas ficaram mais ligadas em suas casas e começaram a usar espaços, como o quarto ou a sala para o home office, academias improvisadas, fazendo os espaços multifuncionais. Vocês pensaram nesses detalhes ao montar o novo CasaCor?
A feira reflete, de diversas formas, o novo momento. Todas as atenções se voltaram para as nossas casas que, mais do que nunca, se transformaram em nosso universo e refúgio. A pandemia despertou muitas necessidades, acelerando movimentos que prometem provocar mudanças até nos lançamentos imobiliários que estão por vir. Em tempos de tanto isolamento social, o verde, mesmo que dentro dos apartamentos, tornou-se ainda mais essencial. Aqui, ele aparece até nos banheiros! Temos, por exemplo, uma sala de banho com uma jabuticabeira no centro. Ou uma sala ou quarto que funcionam ora como home office, ora como academia, ora como canto de estudo ou entretenimento. E, nessa onda de ocupação de imóveis nos centros históricos (como esse projeto “Reviver Centro”, da Prefeitura carioca), nada mais atual do que valorizar os detalhes originais da arquitetura antiga: sancas, portais, vitrais, painéis de azulejo, tetos decorados. São muitos os detalhes que foram revitalizados e incorporados nos projetos dos arquitetos e designers de interiores. Eles estão presentes em praticamente todos os cômodos.
O que vocês aprenderam com essa mudança tão repentina do comportamento dos consumidores com o isolamento social?
Aprendemos sobre empatia, paciência e solidariedade – virtudes que temos posto em prática em nossa vida e que foram fundamentais em todo o processo de montagem.
Vocês fizeram alguma modificação nas suas próprias casas?
Mayer: várias! Criei um home office bacaninha no antigo quarto do meu filho. Arrumei minha varanda, abri espaço para fazer meu treinamento funcional e coloquei uma mesa retangular para jantar todas as noites ali (não usava a varanda nunca!). Troquei estofados, lavei cortinas, adquiri alguns móveis novos. Olhei para minha casa com vontade, nesta pandemia!
Quentel: “A minha sala de jantar se tornou local de trabalho por ser virada para a mata. Comprei uma cadeira confortável Herman Miller; o aparador do Jader virou apoio desse home office. Nessa mesa, de um lado, está meu home office e do outro funciona para almoço e jantar. Dei também uma modificada na varanda: adicionei algumas cadeiras para poder usá-la com mais frequência. Dei um jeito para ter conforto e poder trabalhar em casa.
São 30 anos de “casamento” — como vocês identificam o estilo uma da outra, tanto pessoal como profissional? É fácil superar desacordos?
Somos pessoas bem diferentes na maneira de ser, mas tivemos formação familiar semelhantes. Temos estilos de vida parecidos e objetivos em comum, além de positividade em tudo o que fazemos. Isso nos leva adiante em harmonia e nos faz superar desacordos. Acho que o segredo de uma parceria de sucesso é ter empatia, confiança, paciência e, acima de tudo, respeito; a gente tem o know how uma da outra e também o otimismo em comum. E ahhhh, não gostamos de brigas…. Evitamos a qualquer custo, com quem quer que seja.