Teatro, por Claudia Chaves: “Kamikaze” — O inferno são os outros 

O sentimento que a pandemia vem nos causando é estarmos encerrados em um bunker prestes a explodir a qualquer momento. Os problemas se avolumam, a angústia cresce e a incapacidade de contato torna o impasse em impossibilidade. “Kamikaze”, com texto e direção de Oscar Saraiva, transforma o original de 2012 em um experimento cênico ao levar  um texto com características formais de teatro para o novo espaço.

Encenada  em 2012, “Kamikaze” conta uma história de entrecruzamentos, pois, de um lado, um casal que vive a incansável rotina do dia a dia: trabalho, casa e os dois irmãos dela, que moram com eles e não fazem nada. Do outro lado, um casal, sem filhos, que vive uma incansável lua de mel. Ele trabalha fora, ela é artista plástica. A vida dessas duas famílias se cruzará por conta de um acidente, transformando cada um deles completamente.

Mantendo o enredo original, agora os personagens estão  distanciados fisicamente, mas todo o tempo em diálogo, na medida em que cada um no seu quadrado se cruza com um outro personagem. O desafio de contar uma história e não ser uma sucessão de pequenos monólogos obriga o elenco, formado por Ana Júlia Hammer, Carolina Alfradique, Eduardo Parreira, Mário Terra, Kiko Duarte, Pedro Casarin, Tatyane Meyer e Tiago Ribeiro, a criar uma nova forma de atuação.

O pulo do gato será a chegada de um personagem fascista, que, por meio da manipulação digital, interrompe e confunde a trama e atualiza o enredo. É uma representação do que acontece no nosso contexto político, segundo a visão do autor e diretor. É dessa atualização que o espetáculo ganha força e solidez, pois fica claro que, mais do que a pandemia, são as outras pessoas que, ao mesmo tempo, nos mobilizam, nos paralisam e nos infernizam. 

Serviço: 

Plataforma: Zoom

Dias: 6ª e sábados

Ingressos: Sympla