Sou daquelas apaixonadas pela natureza da cidade, que, a caminho de um compromisso, sempre escolhe o trajeto pela praia, ainda que mais longo. Mesmo assim, hesitei quando minha filha (a designer e diretora de arte Júlia Bueno) ingressou num grupo de natação no mar, no Posto 6, em Copacabana, e me convidou para acompanhá-la.
Apesar de ter feito natação em piscina, em vários momentos da vida, guardava traumas dos caixotes que levei na infância, na praia de Copacabana. Também fantasiava sobre a possibilidade desagradável de encontrarmos com um tubarão — embora não haja registro de casos no Rio. Mães sempre pensam as piores coisas.
Superados esses temores, foi paixão à primeira braçada. Ultrapassar a zona de arrebentação das ondas e sair nadando para longe da faixa de areia ainda faz, dois anos depois, meu coração bater mais forte. A contrapartida, porém, é imensa, a começar pelo ponto de vista que permite observar, à medida que nos distanciamos da praia, nadando, os prédios encolhendo e as montanhas do Rio crescendo por trás deles. É como se a verdadeira natureza da cidade aparecesse, e todo o mal que lhe causamos com a ocupação desenfreada, tanto abandono, tanta violência, fosse reduzido à sua merecida insignificância.
Nadar é, sem dúvida, uma atividade física, exige força muscular, trabalha os pulmões e a coordenação motora, mas, para mim, não é só esporte. As sensações que proporciona se convertem numa experiência mais profunda, de conexão interior. Assim como a meditação usa a técnica do controle da respiração para acalmar a mente, ao nadar nos concentramos em inspirar pela boca e expirar pelo nariz em ritmo compassado, controlando a duração de cada puxada e saída de ar. Não saio do mar menos que radiante.
É preciso um pouco de coragem para se aventurar num ambiente ao qual não pertenceríamos naturalmente. Estamos ali expostos, vulneráveis, ofegantes, por vezes sentindo frio e cansaço, buscando com esforço o oxigênio do qual dependemos. E, contudo, estou sempre contando as horas para voltar. Talvez seja porque tragamos um tanto de água na nossa própria constituição — entre 55% e 65% do corpo de um adulto — e ela seja mesmo a origem de toda a vida, como dizem os cientistas.
Há várias equipes espalhadas pela orla, da Praia Vermelha a Grumari, com turmas e objetivos diferentes. No momento, estou investindo em aprimorar minha técnica com o professor Fabio Iskandarian (@fabioisk), que dá aulas particulares ou em grupo para atletas e até mesmo para quem nunca nadou na vida. Salgue-se quem puder.
Vanessa Bueno trabalhou anos como jornalista do Globo e Extra e, desde 2003, é sócia do escritório de RP e Agenciamento Artístico, H2M Comunicação, que representa atores, como Lilia Cabral e Carolina Dieckmann. Acha uma dádiva morar no Rio.