No dia 20 de setembro, publicamos entrevista com um dos candidatos à presidência do Jockey Clube Brasileiro, na Gávea, o empresário Raul Lima Neto, único concorrente do advogado Luiz Alfredo Taunay, há 12 anos, no cargo.
São as primeiras eleições híbridas do tradicional clube — com votos dos mais de quatro mil sócios, nesta quinta (15/10), através de um link enviado por SMS aos participantes ou na “urna” presencial.
Se você acha que as eleições municipais são gritaria, acusações e adulações, não viu nada — nas internas, o barulho é grande. A coluna fez as mesmas perguntas aos dois concorrentes, sendo que, na data, Taunay preferiu não participar, mas mudou de ideia. Como dissemos, o próximo presidente vai pegar, digamos, uma administração difícil no pós-pandemia, seja para equilibrar a receita — pagar os 560 funcionários fixos, o aluguel de R$ 800 mil e outros gastos —, seja para agradar aos sócios exigentes. A venda do título custa R$ 5 mil, e a taxa de transferência chega a mais de R$ 60 mil (já chegou a R$ 100 mil na fase áurea).
Aqui, a conversa com Taunay, com as mesmas perguntas feitas a Raul.
O que o Jockey significa pra você?
Sou sócio do Jockey há 50 anos. Estaciono meu carro na garagem do Centro em igual período, onde sempre ficou localizado o meu escritório. O primeiro cavalo que adquiri foi em 1970, com mais quatro amigos: uma égua chamada Flower Day. A sede da Lagoa foi praticamente construída em 2004, quando eu era presidente, como também quase todas as melhorias existentes na nossa gestão.
Qual a importância do Jockey para o Rio? Por quê?
O Jockey, realisticamente falando, sempre teve grande importância política e social, inclusive pela sua beleza e localização. Sucede que, com a transferência da capital para Brasília, começou um declínio natural da cidade e, como consequência, do clube também. Diante da crise absolutamente inesperada da pandemia e do turfe no mundo todo, estamos atravessando momentos de grandes dificuldades, mas vamos superar. Cabe registrar que a crise de corrupção no Estado, generalizada e de desrespeito às regras vigentes, atinge a todos indistintamente — uns mais, outros menos —, de modo que o prestígio de todos anda meio abalado; mas vamos recuperar nosso clube nesse aspecto.
São as primeiras eleições híbridas do Jockey, desde 1932. O que pensa sobre isso e que diferença vai fazer na vida dos sócios a vitória sendo sua? Por quê?
A oposição, sem nenhuma consideração com os sócios, tentou, de todas as formas, impedir o voto virtual. Acontece que o Judiciário, em suas duas instâncias, negou o absurdo pleito, mantendo o voto híbrido: o presencial e o virtual. Certas medidas que a oposição vem adotando só têm uma justificativa: absoluta inexperiência e até insensibilidade do candidato de oposição.
Se reeleito, quais mudanças pretende fazer no clube, neste momento ainda com as nossas vidas reguladas pela pandemia?
Continuar lutando para enfrentar essa tragédia da Covid. Tivemos que reduzir os prêmios dos cavalos em 40% e diminuir o número de páreos semanais de 36 para 18, fato jamais ocorrido no JCB, desde a sua fundação, em 1926, porém inevitável, pois, caso contrário, nosso clube estaria fechado.
Durante a pandemia, os sócios não conseguiram desconto na mensalidade, como no Country Club, e reclamaram da falta de transparência dos atos e planos, dizendo que, nem sequer, conseguiam a venda do título, que custa R$ 5 mil e cuja taxa de transferência chega a mais de R$ 60 mil. Poderia comentar?
O Jockey tem basicamente as seguintes receitas: aluguéis comerciais, taxa de manutenção, taxa de transferência e eventos. Com a pandemia, todas as receitas ficaram reduzidas a zero, salvo a taxa de manutenção. Quanto aos eventos, além de nada mais recebermos, tivemos que devolver sinais pagos; logo, ficamos com a receita somente da taxa de transferência. Eleitoralmente, seria até recomendável reduzir a taxa de manutenção, mas, de outro lado, seria um ato de irresponsabilidade tal, que eu não me permitiria jamais. Expliquei a situação aos sócios, que entenderam em sua quase totalidade.
O Jockey tem 560 funcionários fixos, a locação é de R$ 800 mil e, em janeiro, foram feitas obras de R$ 7 milhões (vestiários e piscina). Com os lugares proibidos de funcionar, o que o Jockey fez para se manter e o que pretende fazer para se reerguer dos efeitos da crise?
O Jockey é quase um município, tamanhas a sua magnitude e a complexidade dos assuntos a enfrentar. Logo, não pode, em hipótese alguma, entregar sua direção a uma pessoa sem nenhuma experiência, agravado pelo fato de jamais ter comparecido a uma única reunião. Definitivamente, não pode. Na enorme crise, reduzimos salários e jornada de trabalho, amparados pela legislação. Fizemos tudo isso para o Jockey enfrentar a crise — com a qual, milhares de empresas quebraram ou fecharam —, e continuamos firmes, felizmente.
O turfe voltou em maio, e a prefeitura interditou pela proibição municipal. O turfe responde a que valor com a renda do clube?
O turfe dá um enorme prejuízo há décadas… Com as medidas adotadas, conseguimos reduzir esse gigantesco déficit mensal em 75%, que até março, girava em R$ 3.000.000 milhões mensais.
O que dizer sobre a sede no Centro? Algum projeto?
Temos um projeto pronto, em fase de aprovação, elaborado pelo conceituado arquiteto Edmundo Musa. Diante da crise imobiliária, especialmente no Centro da cidade, até hoje não recebemos nenhuma proposta que possa interessar ao Jockey e, como consequência, aos sócios, que justificasse convocar uma assembleia para deliberar sobre o assunto. Espero que a situação de nossa cidade melhore, que prendam os ladrões e que possamos ter melhores dias, inclusive com o surgimento da vacina para encerrarmos uma fase muito difícil para todos nós.