Semana passada, relatei que, como a maioria das mulheres, fui vítima de situações de assédio tanto na vida pessoal como profissional, e isso, desde os 12 anos de idade. O último caso aconteceu há menos de um mês, nas minhas redes sociais. O sócio de uma amiga, que não me conhece pessoalmente, começou a me atacar publica e sutilmente no meu Instagram. Escreveu algo falso sobre mim e me perguntou se eu não me achava “hipócrita”.
Na hora, fiquei em estado de choque e, rapidamente, pensei que a conta dessa pessoa podia ter sido pirateada, porque eu não podia acreditar que estivesse escrevendo aquilo. Logo, resolvi mandar uma mensagem privada, perguntando se era ele mesmo que tinha escrito aquele comentário e, caso fosse, que eu gostaria de conversar por telefone para esclarecer o que ele estava afirmando sobre mim, que não era verdade.
Ele escolheu me responder no meu post, no lugar de ter uma conversa privada. Naquele momento, não tive mais dúvida da sua intenção — que não era de ter um esclarecimento, e, sim, de me expor publicamente. Qual era o motivo? Até agora, não descobri. Mas não esperei mais um minuto para bloqueá-lo.
Se fosse alguns anos atrás, quando eu ainda não tinha conhecimento sobre os diferentes tipos de manipulação, eu teria caído na armadilha de me buscar defender, tentando mostrar a verdade, entrando num jogo insano e desgastante de “perseguidor/vítima”. O que me salvou, inclusive em outras situações, foi de ter me especializado na teoria do “Triângulo Dramático”, do psicólogo americano Stephen Karpman, que descreve a dinâmica dos conflitos e jogos de poder entre as pessoas, através de três personagens: o perseguidor, a vítima e o salvador. Aprendi a não morder as iscas de vários manipuladores e assediadores, como aquele que quis me expor publicamente.
A manipulação, na maioria das vezes, é muito sutil e velada. Sabe aquela imagem do lobo com máscara de carneiro? Pois é. O manipulador age de forma a semear a confusão, tenta dominar através da intimidação e tende a inverter rapidamente os papéis. Se você não souber manter uma comunicação não violenta, o manipulador acaba se fazendo de vítima e você, de perseguidor(a). Descobri a Comunicação Não Violenta (CNV), criada por outro psicólogo americano, Marshall B. Rosenberg, quando eu ainda morava na França.
Decidi me especializar no assunto quando percebi o quanto esses conceitos eram preciosos, não somente para preservar as relações pessoais e profissionais, como também para ter mais equilíbrio emocional, saúde mental e satisfação na vida. Com esses ensinamentos valiosos, aprendi a ter uma comunicação mais consciente e eficaz, através de diálogos construtivos. Por exemplo, como não julgar, expressar apenas os fatos, evitar rótulos e críticas, generalizações e comparações, identificar e expressar sentimentos e necessidades, demonstrar empatia na prática, e a fazer pedidos claros, objetivos e assertivos. Em resumo, aprendi a compreender e me fazer compreender.
Hoje, em situações de assédio ou manipulação, ensino as pessoas a não se deixarem intimidar e a se defenderem de forma estratégica e cirúrgica. É importante que a vítima não se deixe invadir pelos sentimentos de medo, culpa, vergonha ou raiva. O perseguidor cresce e se fortalece quando percebe esses sentimentos na vítima.
É fundamental buscar algum tipo de apoio, seja de uma pessoa de confiança, seja de um profissional competente, para quebrar o silêncio e a solidão, pois isso também fortalece o manipulador. Manter a calma para ter lucidez e se comunicar de forma educada e factual, evitando críticas e julgamentos, elimina a possibilidade de inversão de papéis.
Toda manipulação começa com um sentimento de mal-estar. Aprender a treinar a percepção dos próprios sentimentos e não duvidar do que está sentindo pode fazer toda a diferença. E, sobretudo, ouvir e seguir a intuição. O cérebro capta tudo, basta ficar atento e reconhecer os sinais.