O Jockey Club Brasileiro, na Lagoa, fundado em 1868 (e o Hipódromo da Gávea, em 1926), vai ter as primeiras eleições híbridas de sua história, ou seja, com votos dos mais de quatro mil sócios, no dia 15 de outubro. Nas internas, o negócio está pegando fogo, tal quais as eleições municipais, só que os candidatos são apenas dois: o advogado Luiz Alfredo Taunay, presidente do clube há 12 anos, e o empresário Raul Lima Neto.
A votação vai ser presencial ou através de um link enviado por SMS aos participantes. A coluna fez as mesmas perguntas aos dois pretendentes, sendo que Taunay prefere não dar entrevistas. Em sua última estimativa, disse: “A minha aprovação foi de 89%”.
O próximo presidente vai pegar, digamos, uma administração difícil no pós-pandemia, seja para equilibrar a sua receita — pagar os 560 funcionários fixos, o aluguel de R$ 800 mil e outros gastos —, ou para agradar aos sócios exigentes. A venda do título custa R$ 5 mil, e a taxa de transferência chega a mais de R$ 60 mil (já chegou a R$ 100 mil na fase áurea).
Aqui, a conversa com Raul:
O que o Jockey significa pra você?
O Jockey Club Brasileiro faz parte da minha vida, desde o início. Meu pai, turfista, fez despertar a paixão pelo cavalo que se estendeu, em igual intensidade, para a parte social. Frequento há décadas o Clube da Lagoa, que faz parte da minha rotina diária, tanto para o lazer quanto para convívio importante com os demais sócios e minha família. O Jockey, portanto, significa uma fração importante pra mim na vida social e esportiva há 30 anos.
Qual a importância do Jockey para o Rio? Por que?
O Jockey possui importância social ímpar para o Rio e, de resto, para o país. O belíssimo Hipódromo Brasileiro, inaugurado em 1926, sempre foi palco de atividades sociais e esportivas relevantes, atraindo personalidades de importância mundial e todos os políticos de destaque no país. Antes um centro de decisões e patrimônio cultural da cidade, o JCB perdeu sua relevância em cenário nacional nas últimas duas décadas, deixando de ostentar seu merecido posto de clube número um do país, como revela o valor do título patrimonial, hoje em R$ 5 mil.
São as primeiras eleições híbridas do Jockey desde 1932. O que pensa sobre isso e que diferença vai fazer na vida dos sócios a vitória sendo sua? Por que?
As eleições híbridas vieram como uma consequência da tecnologia e do tempo atual. Nada contra, muito pelo contrário, temos total preocupação com a saúde e o bem-estar dos sócios. Importante, no entanto, garantir eleições híbridas com respeito aos princípios estatutários que preservam a natureza secreta dos votos e a pessoalidade. O adversário (o advogado Luiz Alfredo Taunay), em uma “live”, reconheceu a dificuldade — ainda não superada — de preservar os princípios estatutários para o modo híbrido.
Se eleito, quais mudanças pretende fazer no clube neste momento ainda com a nossas vidas reguladas pela pandemia?
Será necessário nesse período preparar o clube para um cenário pós pandemia. A adequação das despesas a nova realidade das receitas será inevitável. Gestão profissional com otimização e reestruturação de processos.
Durante a pandemia, os sócios não conseguiram desconto na mensalidade, como no Country Club, e reclamaram da falta de transparência dos atos e planos, dizendo que, nem sequer, conseguiam a venda do título, que custa R$ 5 mil e cuja taxa de transferência chega a mais de R$ 60 mil. Poderia comentar?
Ficou evidente a falta de um canal claro de comunicação direto entre a atual presidência e os associados. A insatisfação em relação a transparência se dá em razão da não apresentação de um planejamento estruturado para enfrentamento da crise. Quanto ao valor do título, isso é um reflexo direto da forma como o Clube vem sendo gerido nos últimos anos.
O Jockey tem 560 funcionários fixos, a locação é de R$ 800 mil e, em janeiro, foram feitas obras de R$ 7 milhões (vestiários e piscina). Com os lugares proibidos de funcionar, o que o Jockey fez para se manter e o que pretende fazer para se reerguer dos efeitos da crise?
Em campanha para eleição em 2016, o presidente atual criticou o anterior pelo fato de haver aumento do quadro de pessoal em quase 100 pessoas. Em seu mandato, nada diferente foi feito. A máquina administrativa atual está inchada, pouco produtiva e altamente custosa. A médio prazo, somente os benefícios do governo não serão suficientes para enfrentar a nova realidade. Será necessário planejamento para a busca do equilíbrio e crescimento sustentável.
O turfe voltou em maio, e a prefeitura interditou pela proibição municipal. O turfe responde a que valor com a renda do clube?
Em 2019, a atividade turfística teve um movimento geral de apostas de R$ 210 milhões, incluindo as corridas em nosso hipódromo, nos outros hipódromos nacionais e as apostas internacionais, desse valor sobra aproximadamente R$ 50 milhões.
O que dizer sobre a sede no Centro? Algum projeto?
Vamos criar um Comitê Especial, que será composto pelo presidente do clube, vice-presidente de Patrimônio, vice-presidente da Sede do Centro e mais três sócios com notório reconhecimento na área imobiliária, para buscarmos uma solução para esse, que é um dos grandes problemas do nosso clube, e devolver o mais breve possível a sede do Centro para os sócios.