No Dia do Sexo, comemorado — ou não — neste domingo (06/09), a entrevistada é professora no assunto. Raquel Pacheco foi do céu ao inferno em seus 35 anos, mas o que não faltam são histórias para contar. Dê um berro quem nunca ouviu falar em Bruna Surfistinha. Já imaginamos o silêncio. Ela deixou a prostituição em 2005, mas o sexo continua a toda em sua vida. Escritora, roteirista e DJ, ela voltou às origens. Calma lá! Desta vez, como empresária, dando consultoria em assuntos sexuais para casais, homens e mulheres, aproveitando para fazer da experiência intensa de três anos de prostituição um negócio rentável.
Uma consulta particular com Surfistinha chega a R$ 769 (por videoconferência, com duração de 45 minutos, ou WhatsApp); já os outros workshops, intitulados “Transforme sua vida sexual”, vão de R$ 351 a R$ 600, todos novíssimos e disponíveis a partir de outubro. Além de ter lançado, recentemente, uma linha de produtos eróticos, todos antes experimentados e aprovados por ela (acompanhe as novidades no instagram @BSurfistinhaOficial e Twitter @BSurfistinha). Bruna, ooops, Raquel, também tem feito lives a pedido dos fãs e respondido a muitas dúvidas sexuais, de graça!
A vida de Raquel está nos livros — “O Doce Veneno do Escorpião — O Diário de uma Garota de Programa” (2005), que rapidamente ficou na lista dos mais vendidos, com concorridas noites de autógrafos e lançamentos em Portugal e Espanha, além de várias tiragens; e “Na cama com Bruna Surfistinha” (2007), especificamente para o público adulto. Sua vida deve interessar a tanta gente, que virou filme em 2011, aprovado pelo Ministério da Cultura — quem aí se lembra da frase do presidente sobre o não incentivo à cultura? (A gente replica: “Não posso admitir filmes como Bruna Surfistinha com dinheiro público”).
“Bruna Surfistinha” rendeu quase R$20 milhões em bilheteria, e foi estrelado por Deborah Secco, dirigido por Marcus Baldini, com argumento de Karim Aïnouz e Antonia Pellegrino. Em 2016, ganhou uma série, “#MeChamaDeBruna, da Fox Brasil e da produtora TV Zero, tendo como protagonista a atriz Maria Bopp, que teve quatro temporadas. E o que vem por aí?
Na quarentena, você fez duas lives a pedido dos fãs. O que rolou?
Meus seguidores sempre me pedem live e que eu apareça mais nos stories. Diferentemente do que as pessoas imaginam de mim, não gosto de exposição exagerada, nem de aparecer demais. Além de ser tímida, acredito que a minha exposição já foi o suficiente, minha vida é literalmente um livro aberto. Nas minhas lives, sempre respondo às perguntas que recebo dos seguidores que têm curiosidades sobre mim. Acabo falando mais sobre mim do que sexo. Na última quinta (03/09), o diferencial foi que fiz um autoteste de HIV. Mostrei o passo a passo e o resultado negativo. Por mais que tenha sido 1/3 do tempo da live focado nesse teste, acho necessário conscientizar as pessoas a se cuidarem. Sou uma voz importante para influenciar as pessoas a se protegerem sexualmente. Também foi bom para mostrar o resultado negativo do meu teste para calar a boca de quem diz que todas as prostitutas, ou ex, como é o meu caso, têm HIV. Nunca peguei nenhuma doença sexual, nem das mais simples de serem curadas. Já estou planejando uma próxima apresentação ao vivo, focada apenas sobre a série baseada em mim: “Me chama de Bruna”. Quero que a Maria Bopp (roteirista que ficou conhecida como ‘a blogueirinha do fim do mundo’) participe para conversarmos sobre a série e matarmos todas as curiosidades de quem assistiu às quatro temporadas.
Este domingo é Dia do Sexo. E ninguém melhor do que você para dar algumas dicas…
Gosto muito de recomendar o pompoarismo (técnica oriental de contração e relaxamento dos músculos vaginais) para as mulheres. Sou praticante dessa técnica há bastante tempo e já estou em um nível avançado, porém, cada vez mais, tenho descoberto o poder do pompoar. Para quem não sabe, pompoarismo fortalece a musculatura interna da vagina; além de fazer bem para a saúde física, o resultado no sexo é maravilhoso! Ajuda tanto a mulher a ter orgasmos mais intensos e com maior facilidade, assim como faz os homens pirarem com a força dos movimentos de ficar apertando o pênis durante a relação sexual. Mudou muito a minha vida sexual. Meu próximo desafio é conseguir fazer meu parceiro gozar apenas fazendo os movimentos internos (com o pênis totalmente penetrado, mas sem o movimento do ‘vai-e-vem’). E claro, até conseguir essa proeza, estarei curtindo meus próprios orgasmos; falta pouco para chegar a esse nível. O pompoar é um exercício que precisa ser praticado diariamente. Digo que é como se fosse academia: para quem quer ganhar músculos, não adianta ir à academia apenas uma vez por mês.
Você dá workshops de sexo. Pra você, quando o sexo é sofrimento e quando é prazeroso?
Para mim, o sexo ainda não perdeu a graça, mas, como fiz muito sexo durante os três anos na prostituição, perdeu o sentido simplesmente pelo prazer carnal. Depois da ‘aposentadoria’, fiquei casada durante 10 anos e precisei buscar uma nova visão sobre minha vida sexual e me reconstruir para descobrir novos prazeres. Durante o casamento, nunca fiz sexo sem estar com vontade e, depois que me separei, continuo mantendo isso. Não preciso fazer mais sexo por obrigação, preocupada apenas em proporcionar prazer ao parceiro — faço por querer fazer, porque estou com vontade de sentir o meu prazer e relaxar com meus orgasmos. Sexo, para mim, depois da prostituição, tornou-se uma troca de energia incrível. Acho tão gostoso criar um momento antes, conversar bebendo um bom vinho, provocar meu parceiro e perceber o quanto ele está excitado por mim, trocar carícias entre beijos e ir esquentando o clima até não aguentarmos mais nos segurarmos para fazer sexo. Quem se relaciona comigo precisa saber que não faço sexo por simplesmente fazer; para mim, é muito mais do que ir para a cama e ser penetrada. Gosto do jogo de sedução. Ainda bem que nenhum nunca reclamou; pelo contrário, modéstia à parte, sempre consegui fazer meus parceiros pirarem.
Aliás, você tem uma loja de produtos eróticos… Na pandemia, esse foi um artifício bem usado para as pessoas que estão sozinhas. O que indicaria de brinquedos eróticos, e se as vendas aumentaram nesse período?
O mercado erótico sempre foi muito forte e, com a pandemia, aqueceu ainda mais. Os vibradores estão em alta. Sempre fui a favor deles e da masturbação feminina. Eu sempre disse que todas as mulheres precisam ter, pelo menos, um vibrador. Lancei, há poucos dias, dois produtos com a minha marca: o Volúpia (um gel deslizante ótimo para ser utilizado como lubrificante ou para masturbar o parceiro) e o Elektra (um spray que causa uma leve sensação de aquecimento e de ‘choquinhos’ que proporcionam uma sensação diferente). O diferencial da minha loja é que não vendo milhares de produtos, apenas os que eu seleciono e realmente recomendo. Faço um garimpo do que há de melhor no mercado erótico. São os produtos selecionados no mês por Bruna Surfistinha. E eles vão mudando.
Como você lida em ser um “símbolo/objeto de desejo sexual”? E como é na realidade?
Eu lido numa boa por ser considerada dessa maneira. Toda experiência que adquiri na prostituição me ajudou na vida pessoal, me permitindo inovar em todas as minha relações sexuais – que nunca são iguais para mim. Gosto também de fazer com que meu parceiro goze de diferentes maneiras, variando durante as relações, pois eu também gosto de variar os meus orgasmos. O orgasmo para o casal não pode ser sempre igual. Não existem regras, como, por exemplo, os dois terem que finalizar sempre tendo orgasmos durante o sexo com penetração. No meu workshop, dou dicas de maneiras de como o casal pode variar, por exemplo, fazendo sexo com penetração experimentando uma nova posição e finalizam, ele fazendo-a gozar no ora, e ela fazendo-o gozar com masturbação. Também gosto de falar sobre a importância de variar o ritmo. Particularmente gosto de sexo sem pressa, mas amo também aquelas rapidinhas intensas.
Existem muitas meninas que perguntam sobre prostituição achando que é um conto de fadas? O que você responde?
Antes de o filme ser lançado (2011), eu recebia muito mais mensagens de mulheres me procurando para dar dicas porque queriam se prostituir; muitas viam apenas a parte boa da fama. Percebi que, depois do filme, a procura por mim diminuiu consideravelmente. Acredito que ele retratou muito a realidade, que está longe de ser um conto de fadas. O dinheiro na prostituição não é nada fácil, é apenas rápido. Se fosse realmente bom, eu jamais teria parado, ainda mais no meu auge, quando estava bombando na mídia, por conta do sucesso do meu primeiro livro publicado. Sempre quando me procuram, faço questão de mostrar essa outra realidade e as faço refletir sobre o fato de eu ter parado.
Atualmente você está solteira? E como tem que ser o homem/mulher para conquistá-la?
Estou solteira há 1 ano e 4 meses, mas não desesperada para me relacionar. O final do meu último namoro me causou bastante dor, então resolvi me permitir dar um tempo e aproveitar. Fiquei casada dos meus 20 aos 30, fase que considero ideal para aproveitar a solteirice com os amigos. Mas a experiência me permitiu um amadurecimento que muitas pessoas da minha idade (35 anos) ainda não têm. Como boa escorpiana, sou muito intensa e me entrego demais. Desde que parei de fazer programa, em 2005, nunca fiquei tanto tempo solteira, mas decidi e percebi que essa situação tem sido maravilhosa. Esta quarentena eterna também está me ajudando neste processo. Para me conquistar, o homem precisa ser educado, carinhoso, que me respeite e entenda o mundo da Bruna Surfistinha. Além disso tudo, precisa ser inteligente, que não seja limitado e goste de conversar sobre qualquer tema e que não seja machista, pois tenho pavor de homem que defino como ‘macho escroto’. Por fim, relacionamento para mim tem que ser a dois mesmo; não nasci para ter relacionamento aberto, mas não julgo e admiro quem consegue.
E quando alguém chega te chamando de Bruna?
Quando uma pessoa me aborda chamando-me de Bruna porque me reconheceu e quer tirar foto ou apenas conversar comigo, eu não me importo. É uma questão muito bem resolvida, e entendo que sou mais conhecida por esse nome. Mas, na situação de eu estar numa balada com meus amigos (antes da pandemia) e algum homem se aproximar demonstrando interesse por mim e me chamar de Bruna, eu dispenso logo de cara, pois fica óbvio que me reconheceu e quer apenas matar curiosidade de como é ficar com Bruna Surfistinha. Eu sei muito bem diferenciar os homens que se aproximam apenas pela Bruna. Ainda bem que minha intuição nunca me enganou. Não sou troféu de ninguém, aliás, nenhuma mulher é.
E que relação você tem com a Bruna e com a Raquel? As duas são completamente diferentes? Elas se odeiam? (rsrsrs)
Acredito que todas as pessoas têm um alterego, e o meu tem um nome: Bruna Surfistinha. Somos muito diferentes, mas nossa relação é de amor, uma complementa a outra. A Bruna precisa da coragem e sabedoria da Raquel; já a Raquel precisa do lado destemido e sem timidez da Bruna. Uma não vive mais sem a outra.
Foto: Matheus Camargo