Prosa ou poesia. Monólogo ou teatro de grupo. Biografia ou homenagem. Verso livre ou rima. Musical ou palavra. Fragmento ou texto integral. Comédia ou drama. Brasil ou universal tradicional ou contemporâneo. Pois é… Todos esses elementos estão reunidos na peça que Clarice Niskier escreve, produz e estreia no seu mais novo espetáculo, “A esperança na caixa de chicletes Ping Pong”, inspirado na obra poético-musical de Zeca Baleiro.
Clarice parte do princípio de que a riqueza da cultura imaterial brasileira é o que nos projeta como uma grande nação, um povo único, uma intensidade de emoções, talentos, e opta pela obra de Zeca Baleiro. São 59 letras de músicas do compositor, inseridas na peça — algumas na íntegra; outras, em versos escolhidos, formando um mosaico juntamente com textos de Sérgio Buarque de Holanda, Ferreira Gullar, Eduardo Galeano, Hélio Pellegrino, Hilda Hilst, Oswald de Andrade.
Com o fio condutor de seu enorme talento de interpretação, Clarice começa narrando um episódio de sua vida de menina, ao qual vai adicionando outras pequenas pílulas, vai abrindo uma caixa onde os sentimentos pessoais são o reflexo de suas inquietações com a alma brasileira e vice-versa. Semelhante à roupa dos capoeiristas, religiosos, de branco linho, é capaz de mostrar que não é necessário fantasia.
Com força de significado, a cenografia é composta pelos figurinos e um rádio antigo. O chapéu de palha do malandro, protetor do sol, é mais um elemento de saudação e signo de uma frase de Amir Haddad: “onde penduro meu chapéu, estou em casa”. Clarice toma o palco com uma saia de filó amarelo, meio fantasia de carnaval, meio bailarina que nos mostra a cor do Brasil. No entanto, é o casaco/manto de Zeca Baleiro que nos faz pensar que a vida é feita de sangue, beleza, camadas e talento.
Serviço:
Quintas-feiras, às 17 h
Ingressos: https://www.teatropetragold.com.br/