Entre as muitas bolinhas de lives no Instagram, é certo que Eduardo Paes esteja “piscando” constantemente, se você é um dos quase 70 mil seguidores do ex-prefeito carioca. Paes está, praticamente como qualquer dos artistas mais em alta nesta pandemia, protagonizando ou sendo convidado de bate-papos quase sempre sobre o Rio, em todos os aspectos. Fora que seu nome voltou a toda desde a possibilidade de “empichamento” de Wilson Witzel — ele foi derrotado nas eleições de 2018 para o governo do estado, mas vai voltar como candidato à prefeito nas eleições de outubro. “Em tempos de políticos bizarros, sisudos, mal-educados, sempre com uma ofensa paralisante da ponta da língua, Eduardo, com esse perfil relax, mais leve, apaixonado pela cidade, vai finalmente conquistar de volta os cariocas?”, pergunta amiga da coluna que não quer o nome publicado.
Fato é que Paes, sempre bem-humorado, continua sendo personagem importante na vida do Rio. Não há como negar, certamente também pelo seu amor declarado pela cidade. Depois das eleições de 2018, o ex-prefeito voltou a trabalhar para a BYD, empresa chinesa fabricante de veículos elétricos, chegou a pensar em se afastar da política, mas não aguentou. Ano passado, ele passou por um cateterismo e angioplastia. Sedentário até então, foi inevitável um novo olhar para as regras do bem-viver — parou de fumar e emagreceu 12 kg. Testou positivo para a Covid-19 em maio e foi assintomático. Agora, o fôlego parece triplicado.
O governador Witzel está ameaçado de impeachment. Qual seu sentimento nesta hora, tendo concorrido com ele?
Eu fico triste pelo Rio. Claro que eu queria ter ganhado a eleição, claro que eu queria estar governando no lugar dele, mas ele ganhou e eu perdi. Eu queria que ele fosse bem. Eu acho que a gente ter um governador pato manco, pensando mais em se defender do que em governar, é muito ruim pro Rio.
Acredita que as falhas do atual governo vêm pelo fato de ele não ter experiência em cargos públicos?
Olha, eu acho que governar não é tarefa para amador e nem é concurso público. Exige capacidade e alguma experiência, e eu avisei muito isso na eleição. Você tem falhas de gestão e tem falhas que são de desvio de conduta ética. Espero que o governador não esteja envolvido. Eu não farei com ele o que ele fez comigo durante as eleições de 2018, que foi me culpar pelos crimes dos outros.
Tendo perdido para alguém desconhecido e sem expressão política, abala seu amor pelo Rio? Por quê?
É ruim, hein! Abalar meu amor pelo Rio, nunca! Amo esta cidade demais, para ficar abalado só porque perdi. Faz parte! Aliás, a cidade me elegeu, a cidade votou em mim. Amo o estado, também. Amo Maricá!
Cite algumas medidas que você tomaria, diferente das de Witzel em relação à pandemia?
Olha, eu destacaria duas medidas. Primeira, eu trabalharia em conjunto com o prefeito e com o Presidente da República. Mesmo que digam que Bolsonaro é brigão e que Crivella é um mala, mas, “quando um não quer, dois não brigam”! Nessas horas, é preciso trabalhar em conjunto. Segundo, para que abrir hospital de campanha numa cidade e num estado onde têm mais de 1.500 leitos vazios? Era só reativar, além de mais barato, deixaria um legado melhor.
E, como prefeito, reabriria a cidade?
Essa coisa de reabrir tem que tomar a decisão em base científica. Se a decisão do prefeito tiver como base a ciência, o que é técnico, eu estou de acordo. Acho que essa é a posição! Eu não tenho acesso a informações que ele tem.
Nessa quinta (11/06), você publicou no Twitter “Lá não tem risco!”, sobre Maricá. A declaração de 2016 sobre a cidade ainda o persegue?
Maricá não me persegue em nada; eu sou o maior zoador do mundo. Eu gosto de zoar com Maricá, falo de sacanagem mesmo, é zoação. Me divirto com Maricá.
Acredita que o humor seja uma boa estratégia para governar? É o que falta atualmente?
Não sei se é ou não boa estratégia. Humor é um negócio que você tem ou não tem, e eu tenho bom humor; então, nunca atrapalhou minha forma de governar. Acordo cedo, durmo tarde, trabalho de domingo a domingo e tento ser bem-humorado. Às vezes, sou brabo também. Pergunta à galera que conhece meu mau humor; eles sabem que o bicho pega aqui.
Como você lida com acusações, como na última, em que, segundo o Ministério Público Federal, você estaria envolvido em um esquema de fraudes na construção do Complexo Esportivo de Deodoro, para os jogos olímpicos de 2016, suspeito de direcionar a licitação da obra, no valor de R$ 647 milhões, para favorecer um consórcio de fachada formado pela Queiroz Galvão e OAS.
Olha, é sempre difícil essa história das acusações, você ser processado, ter bens bloqueados, enfim. Na hora das notícias em que você é denunciado, parece que já é culpado e depois, quando você é absolvido, a notícia não é divulgada da mesma maneira. Então, isso é da vida pública; claro que eu não fico feliz, claro que eu fico triste, claro que eu tenho certeza de que não tem nada disso. Mas, quando essa de Deodoro então… Negócio que eu salvei as Olimpíadas, negócio que o governo Federal não fez, estado não fez, a gente pegou pra fazer, entregamos a tempo, e ainda levamos um processo nas costas. Mas tenho certeza que, como todos os outros casos, a Justiça vai sendo feita. Vida pública é isso mesmo, é duro.
Marco Antônio Cabral, filho de Sérgio, publicou um vídeo dizendo que vocês dois eram amigos e que você foi a mais de 40 jantares na casa de Cabral — movido pelo fato de que você estaria tentando se desvincular da imagem de Cabral. Em algumas situações, podemos responder pela atitude do outro?
Com relação à declaração do Marco Antônio, primeiro, tenho o maior carinho por ele. Vejo com tristeza a situação dele, da família do ex-governador Sérgio Cabral. Mas olha que doida essa história: alguém estaria fazendo acusação de que Cabral fez alguma coisa errada ou mal feita na Prefeitura do Rio? Não. Acusação de que jantou várias vezes comigo? Pelo amor de Deus, bastava dar um Google pra ver, extra, extra, extra: grandes escândalos de Eduardo Paes, acha Maricá uma merda e jantou várias vezes com Cabral. Jantei com Lula, com a Dilma, com Eduardo Cunha, com um monte de gente estranha. Quero já deixar aqui o convite para o Presidente Bolsonaro, para o governador Witzel. E aviso: jamais deixo os copos dos convidados vazios.
Está confiante em sua candidatura nas próximas eleições?
Assim, confiante eu estou! Para mim, eu vejo essa candidatura como missão; não quero ver minha cidade morrendo. Acho que derrotar o Crivella é fundamental. A população carioca já brincou e testou demais em 2016 e 2018 — chega! Então quero ter a honra de governar de novo esta cidade.
Qual sua mensagem para os cariocas?
É parecida com a que falei na resposta anterior: o Rio não tem mais tempo para perder. A gente fez muito, acho que aqui temos uma pessoa que mostrou dedicação e trabalho, que não acertou em tudo, nem tô dizendo que sou perfeito, mas trabalhei muito, fiz muito e acho que é muito mais o caso de olhar para a frente. Acho que será um governo de muito mais botar para funcionar as coisas e devolver ao Rio a capacidade de ter perspectiva de futuro, de sonhar, do que qualquer outra coisa. Não esperem de mim muitas implosões de perimetrais.