Um clima de demolição. Terra arrasada. Móveis velhos, quebrados, jogados. Pichações. Quadra de esportes? Um local sem uso? Tristeza. Desalento. Esse é o espaço cênico de “Conselho de Classe”, especialmente escrita por Jô Bilac para comemorar os 25 anos da Companhia dos Atores, que, a partir da metáfora sobre os problemas da educação pública no Brasil, traça um magnífico painel da mesquinhez humana.
O elenco é formado pelos atores César Augusto, Leonardo Netto, Marcelo Olinto, Paulo Verlings e Thierry Trémouroux, dirigidos por Bel Garcia e Susana Ribeiro. A chegada de um novo diretor faz explodir todos os ressentimentos que sentem “umas pelas outras”. Isso mesmo: o elenco é masculino, vestido como homens, falando como homens, mas todas as personagens são mulheres. E mulheres em grande estilo: ressentidas, mesquinhas. Com isso, consegue-se um efeito extraordinário. Sentimentos não são nem masculinos nem femininos: são humanos.
Sobre Nelson Rodrigues, diz: “Gosto da potência e da ironia e de achar o trágico e o cômico em um mesmo lugar”. E de Neil Labutte, fala: “Possui um texto impactante.” Ri-se muito na peça da tragédia apresentada: da vida cotidiana das professoras, dos seus relacionamentos. No entanto, assustamo-nos com a força da palavra, com as ofensas veladas.
A peça é para integrar o ritual de comemoração de 25 anos da Companhia dos Atores. O conselho de classe é também um ritual. No vigor da história do grupo de atores, vê-se que é a união que os junta e os impulsiona. Na reunião de professores, vemos o contrário: de que forma a preocupação com a individualidade só faz despedaçar e piorar aquilo que já é difícil.
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