#vaipassar. Assim garantiram o Papa, a Rainha da Inglaterra e meu atual guru, o Ministro Mandetta. Enquanto isso, vamos realizando o almejado luxo do mundo moderno, o tempo, que nada tem de glamouroso na quarentena. O tempo se transforma num ato de paciência. E, apesar de tentar lidar o melhor possível com 24 horas diárias em sete vezes por semana, já são 20 dias. Deu para entender a maior parte das minhas reações — alternando momentos de alegria e tristeza, ansiedade com picos de produtiva, caridosa e solidária, grata.
Lidando com as muitas saudades de todos e de tudo, concluí que dedicar alguns momentos por dia à reflexão e tentar processar tudo isso com galhardia, para mim seria uma saída. Será mesmo que eu era feliz e não sabia? Nos primeiros dias, fiz assinatura online de jornais do mundo inteiro e devorava as notícias; precisava entender um pouco sobre a pandemia.
Como não dá para controlar e não dá para fazer muito (além de ficar em casa), decidi me equilibrar o máximo possível, seguindo uma rotina no dia a dia, focando em atividades que me dão prazer e outras que nem tanto, mas são importantes para minha saúde mental, assim como costumava ser AC (antes do corona): acordar cedo, me exercitar (aulas online), comer saudável, organizar a casa, Netflix.
E, nas horas vagas, incluir algumas descobertas recentes que vêm me fazendo bem, como respirar fundo várias vezes ao dia, contemplar o pôr do sol, o mar e suas marés, a pedra da Gávea, calls e video calls com meus filhos, meus netos José Joaquim e Betina, minha mãe, e amigas, olho no olho e bate-papo sem pressa.
Ler um bom livro com calma, repassando muitos capítulos num só dia, é coisa que eu não fazia há muito tempo. Comecei “Homo Sapiens”, de Yuval Harari, e acho perfeito para este momento; evoluímos de primatas a senhores do Universo e fico imaginando quem ainda vai se achar poderoso depois da pandemia. Harari vai ter que adicionar mais um capítulo no final de seu livro…
Rezar já faz parte do meu cotidiano, agora, mais ainda, missas e terços online vêm me ajudando muito. A oração é meu mantra, me apoia e consola. À noite, reduzi o tempo de telejornais, mas acaba que vou das 6 às 9 de Globonews e Jornal Nacional, e a noite acaba com Netflix. Nas redes sociais, uma ou outra live, mas fujo das ofertas de desafios no Instagram e politicagem.
Andei pensando em meditar, fazer yoga, cursos, arrumar todos os armários da casa, testar dotes culinários, mas sei que não vou dar conta, e relaxei.
Não vou sair dessa com corpo sarado, mais culta, caminhando para noite de autógrafo de um belo livro escrito por mim e com a casa tinindo à la Marie Condo. A crise global mexeu com todos os aspectos da minha vida e, por mais positiva que eu possa ser (olha que sou!), não é nada fácil esse processo.
O escritório em home office e os compromissos vão fluindo. O olhar está no futuro DC! 2020 é um ano especial para CasaCor Rio. Completamos 30 anos de um evento contínuo, com sucesso nesses anos todos e responsável pelo deslanchar da carreira de tantos profissionais cariocas…além de todo um mercado.
O ano estava planejado com uma agenda de eventos comemorativos a partir de abril, um por mês, até a abertura. A pandemia nos surpreendeu no meio de negociações contratuais do belíssimo local que realizaremos essa edição (ainda surpresa) e seguimos em frente. CasaCor Rio adiada para outubro!
Tenho a certeza dos esperançosos de que realizaremos uma mostra maravilhosa. Mas faz parte, o risco Brasil existe sempre e a gente sobrevive. Vamos sair dessa mais fortes (imunizados?), solidários, humanos, conscientes, reavaliando valores e estabelecendo prioridades. Resiliência agora é a palavra-chave e humildade, o novo e eterno luxo. E no abrir das portas, vamos ter certeza de que a vida é bela apenas porque estamos vivos. #vaipassar
Patricia Mayer é jornalista e empresária, sócia da 3Plus, que organiza a CasaCor Rio, e personagem importante para toda a arquitetura carioca.