Não é só a Covid-19 que pode estar em muitos lugares, sem que a vejamos. Depois do coronavírus, comecei então a me lembrar das minhas diretrizes sobre limpeza, explicando que a falta de higiene contribui para a vida dos “bichos” invisíveis: ácaros, bactérias, fungos. São muitos, eu garanto. Não guarde seus sapatos sem limpar, não guarde panelas molhadas; recipientes plásticos precisam ser trocados regularmente, porque ficam porosos; as buchas precisam dormir limpas e secando, e não jogadas molhadas dentro da pia, cheias de resíduos da última coisa que se lavou. Roupas precisam ser passadas não só para ficar esticadinhas, mas também porque o ferro quente mata esses micróbios que hoje estão ”modificados”, e nem mesmo sabemos de onde brotam.
O que percebo agora, neste pandemônio em que estamos sitiados, praticando até um exagero de cuidados, é que muitas dessas medidas já poderiam fazer parte dos nossos hábitos. Assim, não estaríamos tão chocados com o que encontramos na própria casa, quando precisarmos enfrentar o batente de uma rotina doméstica. Tenho uma cliente que ficou tão orgulhosa da boa limpeza que fez no banheiro que me escreveu, dizendo que nunca mais ia usar o vaso sanitário! Contudo, sempre procurei esclarecer, para que fique mais definido, nessa função organizacional que pratico há tantos anos e hoje ficou muito superficial, é que organizar é diferente de arrumar, higienizar é diferente de esterilizar, limpar é diferente de desinfetar, seja uma casa, seja qualquer outro espaço onde haja vida humana.
Sempre cito três razões para se ter alguma coisa:
— Querer: ou porque dá status, ou porque um dia você lutou muito para conseguir, porque acha que dá segurança, e outras razões; cada um tem a sua, para possuir alguma coisa que nem sempre precisa;
— Precisar: existem coisas que não gostamos, mas precisamos; por exemplo, malas, mesmo com as restrições de bagagem que já temos, e Deus sabe as que vamos ter daqui pra frente!;
— Gostar: esta é a melhor das razões para possuirmos coisas – seja para olhar, usar, lembrar, não importa! Esse sempre será um bom critério; eu diria que é um respeito ao desejo!
Não sendo nada disso, nem pense: direto pro lixo! E esta passagem tão difícil que estamos atravessando provoca os meus pensamentos numa direção muito positiva: assim como todos nós desejamos que tudo isso nos sirva para fazer um balanço nas mais diferentes áreas, espero também que os bons hábitos e a consciência da necessidade de estarmos realmente organizados permaneçam como uma rotina.
Arrumações podem vir depois, quando tivermos criado os setores da vida, separando de fato o necessário para nosso equilíbrio, saúde, amor, além do conforto que tanto buscamos. E, por consequência, a felicidade de termos vencido o caos! O momento é muito bom pra isso — para a aproximação com a casa. A ordem pode demonstrar que retomamos o controle sobre nós mesmos. Tenho percebido que agora todo mundo está à procura de sua história, das coisas preciosas. Por fim, quero dizer que, enquanto você não puder organizar direito, não pega. É preciso perseverança.
Maria José Alves de Lima, a Zeca, mais do que arrumar, ela organiza a vida das pessoas. Desde criança, descobriu que era esse o seu trabalho. É autora do livro “A Ordem” (Editora Língua Geral), lançado em 2016.