Acho que todo mundo da moda estava, de alguma maneira, um pouco preparado para mudanças, mas não dessa forma tão repentina e impactante. Eu comecei minha empresa (muito pequena), literalmente, na garagem da minha casa; então, sempre estive muito presente em todos os processos de criação e confecção do meu produto.
Abri 20 lojas em 20 anos, e continuei muito próxima de tudo. Amo o que faço e vejo a empresa como uma grande família; convivo com todos diariamente, do estilo até o produto final. Portanto, ter que fechar as lojas e interromper todos os processos, com o começo da “crise coronavírus”, me deixou devastada. Não penso em demitir ninguém; quero manter todos a qualquer custo. Tenho uma equipe supercomprometida e parceira, e estamos juntos, trabalhando com as alternativas que temos para superar tudo isso e sair mais fortes. Sou movida a desafios; agora, o coronavírus, mas não é a primeira vez que passei por momentos duros nesses anos todos.
No meu dia a dia, preciso estar presente para criar, ver cores, modelagens. Não sei fazer moda online; estou tentando me adaptar, mas falta a emoção, o olhar, o toque. Vou me reinventar de alguma forma, fazer coleções menores, sem ter calendários tão estressantes, e isso para mim é muito difícil. Gosto de vender peças que amo e, sinceramente, a demanda de mercado estava me deixando triste, uma obrigação de criar 500 itens a cada 4 meses. Para mim, “falta tempo” para criar, para depurar as ideias, para fazer o melhor. Por isso, acredito que vai acontecer uma mudança positiva a médio prazo. Têm muitas marcas fazendo o “fast fashion” – não quero e não posso competir com grandes grupos internacionais.
No mais, continuo gostando muito de receber, mas já estava num ritmo mais calmo desde antes da pandemia. Acho que grande eventos, grandes festas ficaram um pouco sem sentido para mim, mais ainda num momento tão delicado na nossa economia. Mas estar com os amigos e família, em “festas” menores, acho bem mais “produtivas” socialmente: cozinhar juntos, conversas, música… Interagir mais com menos pessoas. Claro que, agora, temos que nos isolar; os amigos se falam “virtualmente”, cada um na sua casa. Além de trabalhar, tenho aproveitado para cozinhar. Estou tendo tempo de abrir o caderno de receitas da minha mãe e fazer aqueles pratos deliciosos da minha infância, enquanto Lulu (Lima e Silva), meu marido, se envolve em diferentes receitas de pizza, massas e pães!
Mas voltemos à moda: cada estilista vai ter que buscar seu próprio caminho, em vez de pensar só em crescer. Tudo vai dar certo!
Lenny Niemeyer é nome forte da moda praia brasileira, associado à elegância. Aqui, na coluna, falamos que o ar principal de sua vida é a brisa do mar. Além de estilista, é conhecida também como grande anfitriã carioca; contudo, de certo tempo pra cá, tem preferido “festas” menores. Sua ida à cozinha é o momento preferido dos convidados.