Se tem uma pessoa no Rio que não deve dormir ultimamente, é o prefeito. Marcelo Crivella tem feito reuniões constantes, presenciais ou online, sobre as medidas para conter o coronavírus, além das entrevistas diárias e outras solicitações. Segundo a secretaria de Saúde do município, há, até o momento, 103 casos de coronavírus confirmados na cidade carioca e 189 casos suspeitos, e subindo.
Aliás, você pode acompanhar os números atualizados num painel planejado pelo Instituto Pereira Passos, em parceria com técnicos da Secretaria Municipal de Saúde, que mostra o monitoramento diário dos casos confirmados e suspeitos por bairros, regiões, faixa etária e gênero. Neste sábado (21/03), Crivella falou à coluna e disse que está levando a crise com muita “oração”, orando e agindo, para que os casos não se multipliquem e o colapso na saúde pública seja inevitável.
Entre as medidas, estão:
⇒ todo supermercado do Rio terá que divulgar número para entrega em domicílio e prestar esse serviço. A entrega tem que ser feita em no máximo 48 horas. Idosos a partir de 60 anos têm prioridade;
⇒ o BRT Transoeste fechou neste sábado (21/03) e vai voltar a funcionar a partir deste domingo (22/03). Mas, caso não haja respeito à determinação de que os veículos viajem somente com passageiros sentados, sem aglomeração e superlotação, o sistema pode parar por 24 horas;
⇒ parcerias com hotéis para receber idosos sem sintomas e que morem em comunidades ou locais de risco onde seja difícil evitar aglomeração;
⇒ moradores de rua podem ser levados a três abrigos pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (são atualmente 2,4 mil), em um prédio em Honório Gurgel (cedido pela Firjan), Sambódromo e Santo Cristo;
⇒ pedido ao Ministério da Defesa para que militares circulem para abordar pessoas (principalmente os idosos) e orientá-las sobre a necessidade de ficar em casa.
Qual o maior medo do prefeito do Rio hoje?
É a gente não conter a proliferação da doença; por isso, estamos tomando medidas que parecem ser um pouco radicais, mas necessárias, porque a doença tem um nível alto de contágio, e não queremos que ela chegue à população de risco, os idosos e pessoas com comorbidades. Estamos tentando preservar a cidade, sobretudo os que vivem na Zona Sul e Barra, onde aconteceram 90% dos casos. A nossa crise começou no dia 7 de março, e tínhamos dois casos, o que foi decuplicado. Ficamos tristes e sentimos que tínhamos que tomar medidas duras, o que nos deixa preocupados porque isso atinge a atividade econômica, e aí a gente, com menos recursos e mais obrigações, tem um drama adicional. Tomamos as medidas difíceis, ponderei muito sobre elas, reuni os gabinetes de 48 em 48 horas, ouvindo a comunidade científica, porque toda minha apreensão era para saber o número que teríamos neste sábado (21/03). Se chegássemos a 200 casos hoje, seguindo a lógica, daqui a alguns meses teríamos 2 milhões de infectados. O medo do prefeito é termos 2 milhões de pessoas doentes. Agora chegamos a pouco menos da metade, 94. Aí, se você pergunta ‘o prefeito está tranquilo?’. De jeito nenhum, porque, mesmo assim, vou ter 1 milhão de doentes, e isso não é tranquilidade pra ninguém. No entanto, estou confiante nas medidas e que a população cumpra as determinações e tenham consciência cívica. Temos esperança de que não cheguemos a esses números e nos tornemos um exemplo para o Brasil.
E a principal sensação do senhor neste momento?
É ter fé em Deus, estar confiante, ouvindo a comunidade científica, e acreditando que Deus está ao nosso lado. “Oração” é orar e ação, então é isso que faço, orar e tomar as medidas necessárias. Aliás, Cristo tem uma passagem que diz “vigiar e orar”. Estamos nessa fase
Acha que a violência pode piorar? O senhor chegou a ver um vídeo de um turista assaltado no Centro, com um monte de morador de rua em cima dele?
Temos viciados compulsivos em crack. Uma vez que não conseguem a droga, eles podem assaltar e tornam-se violentos, mas estamos tomando medidas para reservar uma área em um galpão de shows em Santo Cristo, no Sambódromo e mais um prédio grande em Honório Gurgel, cedido pela Firjan, para colocar a população de rua e também confinar as pessoas que estão vivendo momentos de compulsão.
Quais as precauções contra a violência que possam surgir com a escassez de comida, etc.?
É por isso que estou restringindo o comércio para abastecimento, sobretudo no Centro e na Zona Sul, onde os caminhões podem abastecer qualquer mercado e farmácia 24 horas por dia. Também estou comprando 20 mil cestas básicas para atender 10 mil ambulantes legais, que são as pessoas do ‘pão nosso de cada dia’, que vendem hoje para comer amanhã. E também procuro dar assistência aos taxistas cadastrados que vivem da diária. Estou abrindo restaurantes populares também para o jantar (Bangu, Bonsucesso e Campo Grande), com preços a R$ 0,50 o café da manhã e R$ 2 almoço e jantar.
E sobre os impostos e quem não puder pagar, já que deve vir uma crise nacional aí?
A partir do momento em que haja uma extensão grande no prazo da crise, vamos tentar ajudar a todos. Pedimos ao governo Federal que os empréstimos que o Rio tem que pagar a bancos públicos sejam adiados. E isso pode ser repassado aos contribuintes — poderemos dar um alívio aos que têm compromisso com o governo Municipal.
O que acha do “método Bolsonaro” para enfrentar a crise?
O presidente tem procurando tranquilizar as pessoas, porque o pânico em nada contribui, mas tem tomado medidas duras, difíceis, para conter a crise. É como eu por aqui, indo a hospitais ou a outros lugares, tentando passar tranquilidade. Mas tenho a impressão de que o presidente tenha que ajustar e temperar o seu discurso, porque isso não é uma gripezinha, mas uma doença que tem matado pessoas no mundo. E tenho impressão que as medidas que o ministro da Saúde (Luiz Henrique Mandetta) está tomando vão nessa linha também.
Sendo o Rio uma cidade turística, quando a Prefeitura vai pensar em algum plano para a retomada?
Sim, lançamos um aplicativo para dizer aos empreendedores da área do entretenimento que não cancelem nada, transfira. O governo Municipal vai dar todo o apoio em isenção de taxas, com a Guarda Municipal, a Comlurb, iluminação pública, tudo o que pudermos fazer para que aquele evento tenha subsídios municipais.
Foto: Mariana Ramos/Prefeitura do Rio