Margaret Dalcolmo é pneumologista, pesquisadora da Fiocruz, membro do grupo de especialistas do Ministério da Saúde. Neste momento, anda às voltas com o coronavírus. Seu nome, destacado, é muito considerado na classe médica e por tantos cariocas frequentadores do seu consultório, no Jardim Botânico. “Uma epidemia traz o novo, o desconhecido, e isso traz o medo. Uma vez mais, a ciência e a compaixão têm que estar de mãos dadas”, diz ela, lembrando que somos hoje o que a Itália era há um mês atrás. Aqui, algumas dúvidas mais incomuns, digamos assim, sobre o Covid-19.
Quais as maiores bobagens ditas até aqui sobre o vírus?
Muitas bobagens ditas e até aventureiras, enganadoras da ingenuidade e do medo das pessoas, sem nenhuma justificativa, como: tomar água quente, altas doses de vitaminas C e D, beber água e chás de meia em meia hora; gargarejos com qualquer coisa, fórmulas homeopáticas, tudo isso com zero ação sobre o coronavírus. Os cuidados são os divulgados amplamente e nenhum tratamento específico, apenas os sintomáticos.
Existe algo que mereça uma melhor explicação?
Dúvidas devem ser tiradas com quem sabe. Tenho recebido coisas horríveis, como fórmulas para aumentar imunidade, até por médicos e sem validade científica, uma bobajada — muitas com receitas salvíficas. Acho isso uma picaretagem.
Quais as medidas a senhora considera mais duras e por quê?
Só conseguiremos reduzir o impacto da epidemia e suavizar a curva epidêmica, como a China fez, com medidas duras de restrições sociais. Não há outra maneira. É esperado que uma vez arrefecendo a curva epidêmica, o vírus fique endêmico na população e, que, possa ser feito prevenção por vacina. Proteção dos mais velhos, ficando em casa, e nos protegendo com medidas de higiene e de contato. Vi bares lotados no Rio nesse sábado (14/03), isso é um absurdo. É um momento novo, e precisamos ajudar uns aos outros.
Na Itália, até os velórios estão proibidos. O que a senhora acha disso?
Acho uma medida muito correta. Até o papa Francisco liberou os católicos de irem a missas.
Festa de todo tamanho deve ser cancelada? Num grupo de 100 com um infectado, qual a dimensão para essa infecção?
O vírus é muito e facilmente transmissível, em ordem geométrica; por isso, qualquer reunião social maior, em ambiente fechado, não é recomendável, de jeito nenhum.
Fale sobre a transmissibilidade sem ser o já tão divulgado até aqui.
Uma pessoa doente, infectada, mesmo que com poucos sintomas, pode passar para três outras, pelo menos, depois mais três, mais três, e assim por diante.
As mães contaminadas podem amamentar?
Sim, podem amamentar! Até o momento, não há demonstração de transmissão vertical, isto é, de mãe para filho.
Casais com um dos dois infectado não pode ter qualquer contato erótico?
Idealmente não, sem sexo de qualquer tipo. Guardar afastamento prudente por 14 dias.
Alguma recomendação alimentar?
Alimentação saudável, boa hidratação, exercícios físicos são recomendáveis. Melhor ainda em lugares abertos ou ventilados. Não recomendo em academias fechadas e sem ventilação. Os aparelhos devem ser limpos com rigor absoluto.
Principalmente para os mais velhos, grupo de risco, carinho de nenhum tipo nem pensar?
Carinho, solidariedade, compaixão e precaução sempre, mas com os devidos cuidados de higiene e etiqueta. Carinho nem sempre precisa ser físico — pode ser até com um olhar, mas sendo com os cuidados necessários, pode, claro — toques. Vai tocar? Que seja com mãos limpas!
Foto: Cristina Granato