Na última quarta (18/03), depois de check-in feito no dia anterior, cheguei ao aeroporto de Heathrow, em Londres, vindo de Paris, e despachei minha bagagem. Quando fui passar para a imigração, meu bilhete estava bloqueado, meu voo, cancelado, e automaticamente transferido para o dia seguinte, quinta, 19/03, às 12:30. Começou então a maratona para recuperar a mala que eu já havia despachado.
Depois de 6 horas no aeroporto de Londres, consegui a bagagem de volta, voltei pra casa da minha amiga e passei a noite mais ansiosa da minha vida. A cada hora, verificava se meu voo estava de pé — uma tensão daquelas, sem conseguir dormir. Cheguei às 9h de volta ao aeroporto, e o que vi parecia um filme de terror: todos os viajantes orientais de macacão branco, óculos transparentes e máscaras. Minha mala de mão foi aberta: tinha creme, shampoo e alguma maquiagem. O cara olhou tudo e quase cuspiu na minha cara — muito próximo, sem respeitar as regras sanitárias.
E eu pensava: se um perdigoto me atingisse, eu estaria acabada, mais ainda porque sou grupo de risco (viajei para comemorar meus 70 anos!). Dava pra perceber a tensão no rosto de todo mundo. Ali fiquei até 12:30, quando finalmente embarquei para Lisboa, permanecendo mais de 8 horas em terra. Lembrei-me imediatamente do filme “O Terminal”, com Tom Hanks (que, aliás, está com o coronavírus), cujo personagem fica morando no JFK, em Nova York, sem poder voltar pra casa. Mas tinha de cair na realidade, e rápido. Na área da conexão, era tudo fechado, dava uma sensação de fim do mundo.
Foi uma alegria ter embarcado, naquele que diziam ser o último voo da TAP Lisboa-Rio. O clima na aeronave era de desespero. Entrava tanta gente que achei que não fosse caber; muitos falando do medo de fechar o aeroporto para voos internacionais. Prestei atenção que os portugueses tomavam todos os cuidados sanitários necessários. O embarque para o meu país foi um dos melhores momentos da minha vida.
Essa foi a única vez que vi funcionários usando luvas e máscaras, com a equipe de bordo, e mantendo distância, com só um serviço muito básico para minimizar ou evitar a chance de propagação — ali estava gente do mundo inteiro.
E chegamos na manhã dessa sexta (20/03), ao Galeão. Em terras cariocas, sob ordens de permanecermos em nossos lugares para a equipe fazer um atendimento, alguém estava passando mal. Isso durou mais de meia hora, o que significa muito para quem está há quase dois dias nesse vai-não-vai. Finalmente desembarcamos.
No Rio, foi zero de fiscalização sanitária: ninguém tomou conhecimento de nada. Descemos do avião e cada um tomou seu rumo. Depois dessa maratona de quase 48 horas, agora é ficar isolada em casa, esperando, enquanto faço a “quarentena” por 14 dias. Hoje (21/03) comecei a contar, menos um!
Laura Leôncio Martins trabalhou a vida inteira na TV Globo. Por anos e anos, foi pesquisadora-chefe do CEDOC.