Conhecer as pessoas, mesmo aquelas mais íntimas, aproximar-se, saber o que vai no coração dos outros é mesmo uma tarefa praticamente irrealizável. E quando não se conhece o filho, o par amoroso? “Tom na Fazenda“, em cartaz no Teatro Petra Gold, no Leblon, transforma essas questões em um verdadeiro redemoinho de sentimentos controversos, numa construção dramatúrgica rara, equilibrada. A direção é talentosa e as atuações, memoráveis.
Obra do premiado autor canadense Michel Marc Bouchard, o projeto é idealizado por Armando Babaioff, que assina a tradução do texto e divide a cena com Soraya Ravenle (excelente atuação na substituição), Gustavo Vaz e Camila Nhary, que jogam e se jogam em diálogos absolutamente cortantes, procurando esconder o que se quer dizer, mas acabam por mostrar o que se sente.
Para mostrar que vida, paixão, separação e morte andam juntas, como se fossem notas e tempos de uma mesma sinfonia, a direção de Rodrigo Portella busca, com enorme eficiência e originalidade, uma moldura sombria na composição do cenário, dos figurinos, da luz. Ao mesmo tempo, a aridez, a dificuldade, a repetição se tornam os elementos pelos quais o encenador opta para radicalizar que o conflito, na verdade, nem deveria existir.
O grande tema — estar apaixonado e, por receio da aprovação da família, esconder a verdadeira natureza — reflete que a forte possibilidade de transformar os relacionamentos em verdadeiras ficções é inóspita como uma lavoura onde se trabalha de sol a sol, mas que nada vinga. Os sentimentos controversos estão no trabalho dos atores, que vão da perplexidade à aceitação, da rotina ao desequilíbrio, com o mesmo equilíbrio.
Fotos: Matheus José Maria
Serviço:
Teatro Petra Gold, Leblon
Sexta a domingo, às 19h30