A crise da água no Rio, noves fora as atitudes do governador, é produto da pior politicagem que existe — aquela que manipula órgãos públicos para atender a interesses próprios. Entretanto, enquanto crise em si, não é nada nova. Na “Ilíada”, de Homero, já está descrito que, no acampamento dos Aqueus, no cerco a Troia, proliferou a peste, que era consequência de água poluída pelas tropas que defecavam e urinavam nas fontes onde bebiam. Como não tinham noções elementares de higiene, supunham que a peste era um castigo de Apolo, o Deus Sol.
Esse era o momento de recorrer aos Augures, pessoas que sabiam como lidar com tais males. Foi assim que Testor, o mais vigoroso dos Augures, levantou-se para consultar Apolo. E disse que, se o acampamento fosse para outro local, a peste passaria. E assim foi feito; a peste passou. O Augure parecia ter poderes especiais por conversar com o Deus Sol, mas, na realidade, só era alguém de bom-senso e experiência no assunto.
Será que a antiga história homérica e seu desfecho podem ser aplicados ao Rio? Devemos pensar em levantar acampamento e ir embora para outro lugar?
Seguramente, todos os dias, encontramos alguém dizendo que quer se mudar do Rio, pois nossa cidade está sitiada de males, dentre os quais, a água envenenada. Todavia, podemos também mudar de lugar aqui mesmo. Podemos fazer a diferença, escolhendo melhor em quem votar, e podemos mudar nossos hábitos egoístas e infantis ao achar que tudo deve ser resolvido por quem está nos cargos públicos.
Podemos, por exemplo, respeitar áreas que pertencem ao patrimônio hidrográfico e onde não deveria haver construções ilegais que jogam lixo e despejo de esgoto. Podemos praticar muitas ações, respeitando um princípio básico da ética: não faças ao próximo o que não quer que seja feito a ti.
Se fizermos isso, não vamos precisar contar com o presidente da Cedae, que nem mesmo consegue respeitar o nosso idioma e conjugar corretamente os verbos — em todos os sentidos — necessários ao diálogo, pois, nos diálogos, respondemos “sim, eu ouço”, e não “eu ouvo”… Infelizmente, existem pessoas que, pelas mais diversas razões, candidatam-se a cargos públicos. Essas razões — que nada têm de éticas — trazem um sofrimento enorme para a população.